Por Gabriel Fabri
Muito antes de Lars Von Trier explorar o universo da
sexualidade feminina em "Ninfomaníaca" (Volume I, Volume II), uma diretora
francesa tornou esse assunto a temática central de sua obra. Trata-se de Catherine
Breillat, que entre muitas polêmicas, realizou um longa em que também uma
mulher buscava sentido para a sua vida através da sexualidade (“Romance X”). O
feminino continua assumindo protagonismo em seu novo filme, “Uma Relação
Delicada”, mas o sexo agora é deixado de lado para a cineasta contar a sua
própria história.
De inspiração autobiográfica, a trama conta a história de Maud (Isabelle Huppert),
uma diretora de cinema que sofre um AVC. O derrame a
deixa com uma paralisia do lado esquerdo do corpo, que implica em
dificuldades para andar. De olho no seu próximo filme, ela vê no vigarista Vilko (Kool Shen),
que aparece em um noticiário da TV após cumprir pena de 12 anos, o ator ideal
para o projeto. O homem logo se torna uma presença constante em sua vida.
O filme constrói uma atmosfera de estranheza onde o
espectador não consegue prever ao certo qual é o próximo passo da relação do
casal. Isso pois não fica claro as motivações dos personagens. Maud está lúcida e
assina cheques como se acreditasse nas palavras do homem – o público pode ficar
deslocado em saber quais são suas verdadeiras intenções, sem falar nas do
sempre suspeito "ex"-vigarista. Aqui, a sexualidade está presente ao avesso de
célebres trabalhos de Breillat, como “Anatomia do Inferno” – sua presença se dá
na ausência. E o erotismo nulo nessa relação só torna o clima do filme muito
mais estranho. Não é o sexo, nem o amor, nem o trabalho, a base dessa relação.
O que é?
A trilha sonora, utilizada em poucos momentos, reforça um
suspense que nem de longe revela uma tensão erótica entre os dois. Apenas indica
que há um perigo naquelas ações, o que a protagonista com certeza sabe. E a
relação se constrói, assim, com base no inexplicável. É exatamente esse o ponto
chave desse filme, que não dá respostas para nada, apenas abre perguntas.
Catherine explica ao mundo sua relação conturbada de maneira bastante clara:
não há explicação.
Um excelente filme que não deve deixar o espectador
confortável, pela maneira dura com que desenvolve sua trama, podendo certamente
frustrar o seu público. “Uma Relação Delicada” é um olhar pessoal da diretora
para o seu período de maior debilidade, o que não é também nada humilde: apesar
de precisar de ajuda para tudo, ou de construir uma relação que não faz muito
sentido, a personagem não perde sua força e a sua autonomia.
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