Por Gabriel Fabri
A televisão americana, de uns anos para cá, vem conquistando elevado prestígio entre os cinéfilos e cineastas. Com séries inovadoras como Lost e 24 Horas, ou refinadas como Damages e Mad Men, é difícil ignorar a relevância que esse modelo adquiriu. Entre os vários programas que tentam vingar e sobreviver à dura prova da audiência, os de investigação criminal são um dos mais bem sucedidos. CSI, Criminal Minds, NCIS, The Closer, Cold Case, Without a Trace - são apenas alguns exemplos de tantos que, semanalmente, tratam de resolver um crime diferente, sempre com o objetivo maior de trazer novamente o espectador sete dias depois. Na mesma onda de investigação criminal, chega ao cinema o argentino Tese Sobre Um Homicídio, do estreante Hernán Goldfrid.
Ricardo Darín é Roberto Bermúdez, um professor de direito criminal. Em sua nova turma de pós-graduação, ele terá como aluno Gonzalo Ruiz (Alberto Ammann), filho de um casal amigo. À princípio, os dois se dão bem, mas Roberto começa a suspeitar do outro quando um corpo de uma garota assassinada é descoberto no estacionamento da faculdade.
Logo no início do filme, o personagem de Darín explica que, numa investigação criminal, o juiz deve prestar atenção nos detalhes. O diretor seguirá essa premissa à risca ao marcar, repetidamente, uma série de objetos, com muitos closes. Além dessa marcação um tanto exagerada, Goldfrid aproveita para colocar os atores sob uma lupa, pois não são raros os planos detalhe, em que apenas uma parte do corpo aparece. O recurso é quase didático, escancarando os elementos que serão usados novamente no filme e, no caso dos atores, permite um maior envolvimento com a história. Uma boa sequência é a que se passa no Malba (Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires), onde o diretor aproveita as obras para fazer planos interessantes, criando ilusões de ótica com as obras.
Longe de ser um O Segredo dos Seus Olhos, filme de investigação com Darín que recebeu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Tese tem uma trama bem simples e um ritmo de blockbuster hollywoodiano. A técnica hitchcockiana de antecipação do suspense, crucial numa cena lá pela metade da projeção, e a trilha sonora para acentuar esse clima são apenas alguns exemplos do que torna o longa ágil. Num crime onde a polícia não consegue encontrar suspeitos, acompanhamos a jornada de Roberto para provar que o seu aluno é culpado. O roteiro funciona muito bem para tornar a obsessão do personagem plausível e interessante, enquanto o uso dos closes colabora para que o espectador fique do lado de Darín e encaixe as peças do quebra-cabeça da mesma maneira que o personagem.
Darín e Ammann estão impecáveis em seus papéis. O primeiro conduz todo o filme e não titubeia quando a câmera chega perto, para pegar um olhar ou alguma expressão. O outro mantém a dubiedade de parecer ser o assassino e uma pessoa inocente ao mesmo tempo, quase indecifrável. Calu Riveiro, que faz a irmã da vítima, também se destaca.
Mas o clímax do filme é problemático. Pouco empolgante, é o momento em que o espectador começa a questionar toda a investigação feita até então, mais por uma sutil incongruência à respeito de um objeto do que por mérito do roteiro ou da direção. Na tentativa de criar uma reviravolta, o diretor perde um pouco a mão, embora o desfecho seja crucial para que Tese não caia na vala comum dos filmes de investigação.
Tese Sobre Um Homicídio revela uma faceta mais comercial do cinema argentino. Ele não provoca o espectador ao longo da projeção, apenas o vai guiando conforme as teorias e descobertas do protagonista. Só no seu final, em aberto, que o longa lembra que não saiu de uma série de TV e, assim, questiona sutilmente tudo o que foi mostrado anteriormente. Questionamentos que já estavam lá antes, mas o diretor não pois a câmera bem em cima deles para esclarecer.
Leia sobre cinema argentina na reportagem escrita por Gabriel Fabri, diretamente de Buenos Aires, clicando aqui.
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