Em julho de 2012, tive uma oportunidade de viajar a Buenos Aires, Argentina, pesquisar um pouco do cinema local e sua recepção. O resultado de conversas com professores, cinéfilos e cineastas foi uma grande matéria publicada no Plano Crítico (clique para acessar), que conclui que a diferença do cinema brasileiro e argentino não é lá tão abismal quanto a recepção mundial dos dois aponta. Numa das entrevistas realizadas, o cineasta e diretor da Universidad del Cine na cidade portenha, Bebe Kamin, na época apontou Pablo Trapero (Abutres) como um dos grandes nomes da cinegrafia local. O novo filme de Trapero, Elefante Branco (Elefante Blanco), mostra uma outra semelhança entre os dois países, no aspecto social: as favelas.
Na trama, Ricardo Darín (O Segredo dos Seus Olhos) é Julian, um padre que há anos presta serviço social numa gigantesca (e violenta) favela. Preocupado com sua saúde, recruta o francês Gerónimo (Jérémie Renier) para trabalhar com ele e ajudá-lo a levar paz e tranquilidade para o que estima serem 30 mil moradores. Contarão com a ajuda da assistente social Luciana (Martina Gusman).
Filmes que mostram um pouco da rotina das favelas já são conhecidos, como Cidade de Deus e Quem quer ser um milionário?. Tendo em vista isso, a trama é focada nos dramas dos três personagens que dedicam sua vida ao trabalho social nesse ambiente e se sentem frustados com o que conseguem. Trapero abre os olhos do espectador para aqueles que estão nesse ambiente por escolha, com um objetivo difícil de ser alcançado, e mostra os obstáculos na construção de uma obra tocada pelos protagonistas, em meio a conflitos internos e com a polícia, com o governo, com os operários, os moradores e a própria igreja.
A direção é fria, há um grande distanciamento entre o público e os moradores da favela. Isso evidência o caráter rotineiro dos problemas intrínsecos ao ambiente e permite o foco no drama dos personagens principais, mas sem apelar para fortes emoções no relacionamento entre os três. Há uma boa construção de situações envolvendo os protagonistas e o meio em que atuam, entretanto o final, totalmente inesperado, é o que ficará marcado na cabeça dos espectadores. E como todo bom filme, dará uma razoável margem para reflexão.
Elefante Branco traz uma nova abordagem ao tema das favelas. Entretanto, um tema tão próximo da sociedade urbana fica parecendo muito distante, apesar da aproximação do espectador com os personagens principais. Talvez pela falta de mobilização social como a dos personagens, que não conseguem se realizar ao tentar amenizar um problema tão grande. O filme é, em suma, um aviso de quantas partes estão envolvidas nesse problema e precisam mudar de atitude. E no fundo o espectador sabe que é o cidadão, não o da favela mas o de fora, que precisa reivindicar essa mudança.
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