Texto contém spoilers de Psicose (1960). (Esperando o quê para assistir?)
Escolher quem, entre tantos artistas talentosos do cinema Hollywood afora, é o mais talentoso, o mais importante ou o melhor diretor da história é sem dúvida uma decisão arbitrária, e, por mais que bem fundamentada, passível de questionamento. O mesmo para qualquer outra lista do tipo, como, por exemplo, a de melhores filmes, liderada, por enquanto, por uma obra prima de Alfred Hitchcock, o incrível Um Corpo Que Cai (Vertigo). Tais listas são ótimas pois movimentam o universo cinematográfico com discussões acaloradas. Alguns coisas, porém, são inquestionáveis. Entre elas, o fato de Alfred Hitchcock ter sido um dos maiores e mais importantes cineastas. Mais de três décadas após sua morte, o diretor volta à vida na pele de Anthony Hopkins (O Silêncio dos Inocentes), em um filme sobre os bastidores de um dos seus mais significativos: Psicose, clássico de 1960.
Hitchcock, dirigido pelo estreante Sasha Gervasi, recebe a missão de aproximar essa lenda do cinema de um novo público, ao mesmo tempo em que presta uma homenagem. O filme se baseia no livro de Stephen Rebello, Alfred Hitchcock e os Bastidores de Psicose, para mostrar um pouco da personalidade do diretor chegando ao auge de sua carreira, onde, após o fracasso de crítica e público de Vertigo, apostava no seu projeto mais arriscado até então: um filme de terror preto e branco em que a grande estrela é descartada de maneira a desafiar as convenções do cinema, numa cena violenta demais para ser exibida, e ainda com um personagem como Norman Bates, um homem aparentemente comum.
O filme de Gervasi percorre a jornada do diretor para fazer seu novo projeto, desde a descoberta do livro homônimo ao lançamento de Psicose e seu marketing inovador. A teimosia do personagem, a resistência da Paramount, o apoio de sua esposa Alma Reville (Hellen Mirren) e as peculiaridades das filmagens são mostradas, com algumas licenças poéticas adicionais - as três envolvendo referências às facadas do chuveiro são as melhores cenas de Hitchcock.
Embora essas três sequências, somada à da filmagem de Janet Leight (Scarlett Johansson) dirigindo um carro, já valem a homenagem, o filme peca em alguns aspectos. A tentativa de associar os problemas psicológicos de Alfred ao antagonista de seu clássico não é só confusa como desnecessária. Uma solução preguiçosa para montar o clímax que soa como um grande clichê. Como é também os problemas colocados entre Alma e seu marido, na tentativa de criar uma subtrama de conflito entre os dois paralelo à das filmagens. Esse enredo paralelo é interessante, pois permite uma ótima atuação de Helen Mirren e uma brecha para mostrar Hitchcock também na sua intimidade, mas é previsível.
Hitchcock não tem nada de excepcional, além de seu personagem principal. Hopkins e Mirren têm boas atuações e o roteiro dá conta de várias peculiaridades da filmagem e da personalidade do ícone, entretanto, vale apenas para os fãs do diretor descobrirem curiosidades. Rever a silhueta gorda e macabra do mestre do suspense parece ser o grande atrativo do filme. Em suma, é uma daquelas obras hollywoodianas em que a ideia do produto é muito mais empolgante do que o próprio filme em si.
Para retratar um diretor consagrado que ousou tanto ao longo de sua carreira (a simulação de um plano sequência impossível de ser feito em Festim Diabólico e o horror silencioso de Os Pássaros, por exemplo), foi feito um filme ordinário, aquém do personagem que queria homenagear. Faltou ousadia para retratar o inglês que há 52 anos mostrava no cinema comercial americano pela primeira vez uma privada de um banheiro, uma cena de dois atores seminus na horizontal e outra tão sutil mas tão perturbadora que até hoje é lembrada como um dos momentos mais grandiosos da sétima arte - e foi imortalizada como tal.
Convido você que leu o texto até aqui, a ler meu relato sobre a Mostra Hitchcock, realizada em 2011, onde travei meu primeiro contato com esse mestre do cinema. Para quem não conhece sua obra, fiz um interessante apanhado de suas características: http://popwithpopcorn.blogspot.com.br/2011/07/mostra-hitchcock.html
ÓTIMA CRÍTICA GABRIEL.ELA É MAIS PROFUNDA QUE O PRÓPRIO FILME, QUE EM MINHA OPINIÃO TEM UM ROTEIRO E DIREÇÃO FRACOS. MAS O FILME, COMO VC DISSE, VELE PARA OS FÃS DE HITCH, PRINCIPALMENTE POR MOSTRAR OS BASTIDORES DAS FILMAGENS. PARABÉNS! BJS. BRUNA GASGON.
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