O curta que inspirou o filme Mama, ambos dirigidos por Andres
Muchietti, é uma narrativa bem simples, que consistia apenas em duas crianças
fugindo de um fantasma, mas que cria uma válida situação de suspense em menos
de três minutos - a simplicidade e a brevidade do projeto eram pontos ao seu
favor. Adaptado para o cinema, sob produção de Guillermo del Toro (O Labirinto do Fauno), resultou num
filme assustador e convincente – pelo menos, até certo ponto.
Antes
mesmo dos créditos de abertura, a trama vai rapidamente tomando forma e já
entrega várias situações inesperadas, com a fuga de um homem com suas duas
filhas. Após a abertura, composta de desenhos que lembram pinturas rupestres, o
enredo se desloca cinco anos no futuro, onde, finalmente, as garotas são
encontradas, vivendo como animais. O casal formado por Lucas (Nikolaj
Coster-Waldau), tio das garotas, e Annabel (Jessica Chastain, indica ao Oscar
por A Hora Mais Escura) tentará reintegrá-las
na sociedade e formar um lar. Entretanto, as crianças enxergam um fantasma que
chamam carinhosamente de “mama”, e que inquietará a nova família.
Embora
apele para o fantasma e a infância primitiva das garotas com o intuito de gerar
sustos fáceis, muitas vezes gratuitos, o filme se sustenta com uma boa história
e uma boa direção. O diretor segue à risca a
cartilha do gênero, filmando de maneira a provocar os mais tensos planos, e
usando até de velhos clichês de histórias de casas mal assombradas e algumas
tiradas de humor. Funciona: Mama
consegue, em muitos momentos, ser aterrorizante, e a tensão permeia o filme até
o fim.
O
maior mérito da obra são as contradições das duas meninas. Personagens muito
ambíguas, e, por isso mesmo, bem desenvolvidas: em alguns momentos, as fofas
podem ser mais aterrorizantes do que o fantasma da Mama. Isso cria não só um,
mas três objetos de perigo. Ao mesmo tempo em que o espectador teme pelas
crianças, ele sente medo delas próprias. Essa ambiguidade é bem explorada para
os sustos, para o clima acentuado de suspense e para as cenas das sessões de
terapia, onde a pequena Victoria, a mais velha das filhas, é colocada no divã.
Outro personagem ambíguo é a própria Mama, que pode até levantar questões sobre
laços maternais ou sobre a humanidade do fantasma.
A
direção certeira dá o clima e a ambiguidade dessas três personagens é o motor
do filme. Entretanto, o filme peca na sua sequência final. Talvez fosse melhor
que o longa não tentasse se explicar tanto e terminasse numa das cenas mais
marcantes do filme: a que faz referência ao curta em que a obra se baseia. O
diretor faz uma jogada arriscada e coloca os personagens praticamente na mesma
situação do curta, mas termina a sequência de maneira diferente, pegando uma
peça em quem conhecia o original. De quebra, ainda completa com uma
aterrorizante situação com a personagem da tia que, até então, tinha sido
inútil para o desenvolvimento do filme e que, com exceção dessa cena, continuou
sendo. Se o filme parasse ai, em aberto e assustador, poderia ter sido uma
melhor solução – o plano que mostra a casa logo em seguida seria perfeito para
o encerramento, e esse tal personagem (uma senhora que quer a guarda das
crianças) teria alguma razão de existir.
A partir desse
momento, porém, a obra muda de ritmo e vira, mesmo que só pelos minutos finais,
uma mistura de filme de ação com fantasia. Entrega os mistérios da trama para o
espectador, junto com um final que, apesar de incomum e totalmente inesperado,
parece um pouco brega – um final de conto de fadas que destoa do gênero.
O terror
claustrofóbico da casa, das meninas e do fantasma vira algo piegas no desfecho.
Louvável a criatividade para terminar o filme, mas o final fica aquém do que
foi visto anteriormente. Todavia, apesar dos tropeços e dos clichês do gênero,
Mama se garante como um bom filme de horror – bem executado, envolvente e
aterrorizante.
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