quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Tatuagem




Corpo, Liberdade e Tatuagem

Por Heloisa Aun


Vencedor do prêmio de melhor filme no Festival de Gramado 2013, Tatuagem mostra um verdadeiro panorama artístico brasileiro atrelado a questões políticas. A nova obra do diretor pernambucano, Hilton Lacerda (roteirista de Febre do Rato e Amarelo Manga), reúne questões como liberdade, sexualidade e amor, unindo uma série de metáforas e análises acerca da sociedade da década de 70.

A história se passa em 1978, em Recife, tendo como pano de fundo a ditadura militar. A questão central é a relação de amor entre Clécio (Irandhir Santos, O Som ao Redor), líder de um grupo de teatro, e o soldado Arlindo Araújo (Jesuíta Barbosa), apelidado de Fininha, de apenas 18 anos. A homossexualidade é retratada de maneira poética e real, sem qualquer restrição, quebrando tabus do cinema brasileiro, como a nudez e o sexo entre dois homens.

A trupe “Chão de Estrelas” realiza peças em seu teatro anárquico e libertário, o qual é composto pelos amantes Clécio e Paulete, além de outros integrantes. Fininha acaba se aproximando do grupo ao se envolver com o líder, vivendo uma história de amor que modifica a vida de ambos os personagens. O soldado vivencia humilhações no ambiente militar, sofrendo transformações que o amadurecem cada vez mais. As relações de afeto, sobretudo, são mostradas detalhadamente, como a de Clécio com seu filho e sua ex-mulher, além dos vínculos dentro da própria companhia teatral.

A questão da arte é representada em combate à repressão exercida pela ditadura militar. As performances chocantes, o uso do corpo como protesto, as músicas com humor (como a “Tem Cu”, que não sai da cabeça de quem assiste ao filme), a crítica política implícita, as encenações e o figurino. Tudo isso provoca uma sensação de liberdade, pouco presente e representada atualmente. A ênfase na cultura e na ironia equilibra o clima de censura e tensão, realizando provocações ao poder, a partir de diálogos e canções.

A atuação dos personagens principais, como a de Irandhir Santos e Rodrigo Garcia, além do iniciante Jesuíta Barbosa, traz ao filme uma sensibilidade e veracidade ainda maior. Outro destaque da trama é a exposição e exploração da cultura pernambucana daquele período. As questões evidenciadas em Tatuagem podem ser trazidas para atualmente, em relação à violência social e a busca constante pela liberdade.

Tatuagem mostra um cinema brasileiro irreverente e ousado, que mistura tendências artísticas, além de exibir uma belíssima composição de cenas e da trilha musical. É um cinema que tem sabor, cor e amor, que faz com que o espectador sinta as mensagens implícitas e as ironias até nos mínimos detalhes.

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