quinta-feira, 6 de março de 2014

Instinto Materno




Por Gabriel Fabri

Na primeira cena de Instinto Materno (Child's Pose), longa romeno vencedor do prêmio de Melhor Filme no Festival de Berlim em 2013, Cornelia lamenta o comportamento de seu filho Barbu em relação a ela. Após meses sem se verem, eles brigam (de novo) e o garoto de 34 anos a mandou para aquele lugar. Ela culpa a esposa dele pelo distanciamento familiar, mas o público percebe de antemão, diante da personalidade forte da mulher, que o problema dessa relação é muito mais complexo do que ela supõe.

Embora Barbu (Bogdan Dumitrache) evite todo e qualquer contato com sua mãe, ele não conseguirá mais se desfazer de sua presença após atropelar acidentalmente um menino de origem humilde. Cornelia, na interpretação magistral de Luminita Gheorghiu, fará o que estiver a seu alcance para não ver seu filho ser preso e, se possível, retomar os laços afetivos com o homem.

A direção de Peter Calin Netzer aponta para um inquietamento e reflete a ansiedade da protagonista. São muito frequentes os movimentos de câmera, em especial o zoom para trás. A atmosfera criada, junto com a fotografia fria e a ausência de trilha sonora, mostra um vazio da personagem principal, cuja única coisa que dá valor na vida é seu filho, mas não consegue segurá-lo. E tem pressa, pois envelhece, e ainda está diante da possibilidade de ver Barbu atrás das grades.

Embora exista no plano de fundo uma discussão ética, envolvendo a responsabilidade pelo acidente, é no conflito da mãe com o seu filho que o filme se debruça. Mais especificamente, sob a influência da personalidade forte de Cornelia nessa relação. A personagem quer fazer tudo pelo seu filho, como supostamente a maioria das mães. Entretanto, o longa coloca isso em xeque na construção da protagonista: ela faz tudo pelo filho ou por si mesmo? Assim, é discutido o quanto uma mãe deve, pode ou precisa influenciar na vida de seu proveniente. E, curiosamente, o longa desemboca em um retrato onde a responsabilidade de um se confunde com a do outro: Cornelia está disposta a fazer o certo, mesmo que seja dolorido, e o errado, mesmo que não seja necessário, para livrar a barra do filho, enquanto esse adota uma postura passiva diante da situação. 

Instinto Materno já vale só pela excelente interpretação de Luminita Gheorghiu, que se fortalece com a boa construção de sua personagem. O filme vai além, porém, e pode deixar o espectador um pouco desconcertado ao discutir relações familiares de uma maneira fria, mas que dá o tom certo para a obra.


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