quarta-feira, 18 de março de 2015

Dívida de Honra



Por Gabriel Fabri

“As pessoas falam sobre impostos e mortes. Quando se trata de loucura, elas ficam em silêncio”. Essa frase, dita a personagem Mary Bee Cuddy (Hilary Swank) pelo referendo de uma pequena cidade na região de Nebraska, nos EUA, faz referência a dois temas de “Dívida de Honra”, filme dirigido por Tommy Lee Jones e baseado no romance de Glendon Swarthout: a loucura de três mulheres casadas, transportadas pelo deserto feito animais para voltarem a casas de seus pais, e a atitude de Mary, transgressora numa sociedade machista e patriarcal, que data de 1854.



Mary é uma mulher já na casa dos trinta anos. Está, portanto, no limite da idade para conseguir se casar. Mulheres solteiras não são bem vistas nessa sociedade do velho oeste, ainda mais uma com a personalidade forte de Mary, “mandona e sem atrativos”. Diante da necessidade de levar três esposas que enlouqueceram para uma cidade distante, de forma com que elas possam ser encaminhadas de volta para os pais, Mary se voluntaria para missão, escandalizando os moradores da região, já que, como o título original ("The Homesman") sugere, a tarefa era para o "homem da casa" – a personagem assume assim uma responsabilidade que nenhum homem da vila ousou encarar. Um dia antes de partir, Mary avista um velho mal cuidado pendurado em uma corda, aguardando o próprio enforcamento, e o salva em troca de companhia para a viagem. Trata-se de George Biggs, interpretado por Tommy Lee Jones. 

“Dívida de Honra” trata com sensibilidade os seus personagens: a mulher independente e indesejada; o homem que chega ao fim da vida sem nada além de rancor; as jovens que enlouqueceram e passaram a ser vistas como uma escória. Com uma bela fotografia, trilha sonora delicada e boas atuações de Hilary Swank e Tommy Lee Johnson, o resultado é um agradável filme sobre uma viagem transformadora, mas, principalmente, sobre a posição inferior na qual os homens da época colocavam as mulheres – e uma mulher que resolveu desafiar o preconceito e esse status quo retratado no filme. Embora o protagonismo fique com Swank, vale prestar atenção no interessante personagem de Lee Johnson, que brilha em algumas das melhores cenas do filme.

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