sábado, 4 de maio de 2013

Em Transe



O inglês Danny Boyle, vencedor do Oscar por Quem quer ser um milionário?, tem uma habilidade reconhecida de prender o espectador na poltrona. Mostrando de um morador da favela que tenta a sorte num programa de TV da Índia ao cenário apocalíptico de Extermínio, Boyle se firmou como um dos grandes diretores da atualidade. Seu último filme, 127 Horas, foi baseado numa história real e se passa quase inteiramente numa fenda entre duas montanhas. Agora, o diretor se arrisca numa trama mais complexa, cheia de reviravoltas e personagens com propósitos ocultos. Trata-se de Em Transe (Trance).

Simon (James McAvoy) é o responsável pela segurança de um leilão de arte, evento que é invadido por uma quadrilha interessada em um valioso quadro. Durante o assalto, Simon é agredido e acorda meses depois. Logo, descobrimos que ele era cúmplice da ação dos criminosos, mas, num ato de traição, escondeu o quadro. Sem lembrar aonde o colocou, ele é submetido à tortura, que se prova ineficaz. Resta aos bandidos submetê-lo às técnicas de hipnose de Elizabeth (Rosario Dawson).

A obra de Boyle poderia ser um mero filme sobre hipnose se não fosse a audácia do diretor de construí-lo e desconstruí-lo aos poucos. À medida em que as sessões vão avançando, os personagens vão surpreendendo e revelando pouco a pouco suas facetas, de modo que suas personalidades, caráteres e propósitos são, à toda hora, colocados em dúvida pelo espectador. O roteiro é bem amarrado e permite uma ótima montagem, essencial para a trama: o que se passa é um sonho, uma lembrança, um flashback ou está acontecendo mesmo nesse instante? Esses recursos não são novos, mas funcionam perfeitamente para driblar o espectador e causar diversas reviravoltas no enredo. 

Com uma trilha sonora bem utilizada, fotografia impecável e violência estilizada, Em Transe prende o espectador e o desafia a montar o quebra-cabeça proposto. O resultado é muito menos um filme sobre a busca por um quadro e sim sobre uma busca pelas motivações dos três personagens que compõe o triângulo central (além de Dawson e McAvoy, Vincent Cassel completa o time principal). 

O longa não deixa pontas soltas, abertas à observação atenta e interpretação do público. Pelo contrário, ele explica todos os elementos usados anteriormente e que sustentam o final. Apesar de acabar com a necessidade de assistir a ele novamente, o recurso é usado para continuar deixando o espectador boquiaberto com algumas cenas. Se os fatos em si são surpreendentes, as revelações das pistas dadas ao longo da trama, também.

O jogo de ilusões desse quebra-cabeça proporciona um ótimo e complexo entretenimento, de qualidade superior a de muitos filmes de ação e suspense produzidos ultimamente por Hollywood. Boyle entrega um de seus melhores longas, infinitamente superior àquele pelo qual ganhou o Oscar.

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