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quinta-feira, 22 de maio de 2014

Uma Longa Queda


Por Gabriel Fabri

Martin Sharp era apresentador de um dos programas de maior audiência do Reino Unido e tinha uma vida familiar confortável e aparentemente estável. Até ele ser condenado à prisão por fazer sexo com uma menina de 15 anos, que teria afirmado ser maior de idade. A carreira, o casamento, o relacionamento com as filhas, a reputação: tudo o que ele construiu ao longo da vida foi arruinado. Sem perspectivas para o futuro, Sharp resolve se atirar de um prédio na noite de ano novo. O que ele não contava era que outras três pessoas também tivessem a mesma ideia. Esse é o mote da comédia "Uma Longa Queda" (A Long Way Down), adaptação homônima do romance do inglês Nick Hornby para os cinemas.


Junta-se a Sharp (Pierce Brosnan) um grupo de pessoas que se consideram miseráveis, cada um à sua maneira. A adolescente Jess (Imogen Poots) está com o coração partido após ter transado com um garoto que a descartou logo em seguida; a cinquentona Maureen (Toni Collette) se sente sozinha, cuidando de seu filho, um jovem com deficiência; o entregador de pizzas JJ (Aaron Paul) alega estar morrendo de um câncer cerebral, mas esse não parece ser o real motivo de ele preferir a morte à vida. 

Essa reunião de pessoas completamente diferentes, tendo em comum o fato de serem todos melancólicos e perdidos, poderia gerar vários tipos de conflitos e situações. Com isso em vista, o filme recria e desconstrói alguns acontecimentos do livro, como, por exemplo, o motivo de eles terem descido da torre - muito mais plausível no filme. Mudanças como essa são muitas (além de que praticamente a segunda metade inteira do livro é descartada), mas são, em sua maioria, positivas para a trama, que tem ritmo e é envolvente.

A narração do livro de Hornby, feita por todos os quatros personagens, intercalando-os, é transposta para o filme, que dá voz para cada um deles narrar um pedaço da história, uma única vez. Assim, o diretor Pascal Chaumeil aproxima um pouco o público dos pensamentos de cada um dos integrantes da "gangue" suicida. Não chega a adquirir, porém, uma profundidade significativa aos personagens. E ai que está o problema: desprovidos de complexidade, todos parecem muito superficiais. E fica difícil entender o por quê deles quererem se matar no início do filme. Dos quatro, apenas Jess se destaca, trazendo um humor irreverente com seu papel de adolescente problemática. O personagem de Pierce Brosnan é o que mais sofre com a simplificação - o espectador pode até querer ser como ele, no fim das contas. E a solidão de Maureen, a mais tocante no livro, passa meio batido.

"Uma Longa Queda" prefere trabalhar com apenas uma chave da história desses quase suicidas: a da superação. Nesse caminho, resulta em uma obra tão alto astral que quando tenta fazer um drama no clímax, não convence, e se desenrola em um final clichê e previsível. O grupo que poderia ser tão conflituoso se limita a dar uma lição de comunhão e positividade que realmente agrada a audiência, mas que logo será esquecida.  

  

sábado, 4 de maio de 2013

Em Transe



O inglês Danny Boyle, vencedor do Oscar por Quem quer ser um milionário?, tem uma habilidade reconhecida de prender o espectador na poltrona. Mostrando de um morador da favela que tenta a sorte num programa de TV da Índia ao cenário apocalíptico de Extermínio, Boyle se firmou como um dos grandes diretores da atualidade. Seu último filme, 127 Horas, foi baseado numa história real e se passa quase inteiramente numa fenda entre duas montanhas. Agora, o diretor se arrisca numa trama mais complexa, cheia de reviravoltas e personagens com propósitos ocultos. Trata-se de Em Transe (Trance).

Simon (James McAvoy) é o responsável pela segurança de um leilão de arte, evento que é invadido por uma quadrilha interessada em um valioso quadro. Durante o assalto, Simon é agredido e acorda meses depois. Logo, descobrimos que ele era cúmplice da ação dos criminosos, mas, num ato de traição, escondeu o quadro. Sem lembrar aonde o colocou, ele é submetido à tortura, que se prova ineficaz. Resta aos bandidos submetê-lo às técnicas de hipnose de Elizabeth (Rosario Dawson).

A obra de Boyle poderia ser um mero filme sobre hipnose se não fosse a audácia do diretor de construí-lo e desconstruí-lo aos poucos. À medida em que as sessões vão avançando, os personagens vão surpreendendo e revelando pouco a pouco suas facetas, de modo que suas personalidades, caráteres e propósitos são, à toda hora, colocados em dúvida pelo espectador. O roteiro é bem amarrado e permite uma ótima montagem, essencial para a trama: o que se passa é um sonho, uma lembrança, um flashback ou está acontecendo mesmo nesse instante? Esses recursos não são novos, mas funcionam perfeitamente para driblar o espectador e causar diversas reviravoltas no enredo. 

Com uma trilha sonora bem utilizada, fotografia impecável e violência estilizada, Em Transe prende o espectador e o desafia a montar o quebra-cabeça proposto. O resultado é muito menos um filme sobre a busca por um quadro e sim sobre uma busca pelas motivações dos três personagens que compõe o triângulo central (além de Dawson e McAvoy, Vincent Cassel completa o time principal). 

O longa não deixa pontas soltas, abertas à observação atenta e interpretação do público. Pelo contrário, ele explica todos os elementos usados anteriormente e que sustentam o final. Apesar de acabar com a necessidade de assistir a ele novamente, o recurso é usado para continuar deixando o espectador boquiaberto com algumas cenas. Se os fatos em si são surpreendentes, as revelações das pistas dadas ao longo da trama, também.

O jogo de ilusões desse quebra-cabeça proporciona um ótimo e complexo entretenimento, de qualidade superior a de muitos filmes de ação e suspense produzidos ultimamente por Hollywood. Boyle entrega um de seus melhores longas, infinitamente superior àquele pelo qual ganhou o Oscar.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Os Miseráveis



Em determinado momento de Os Miseráveis (Les Miserables), não muito depois do seu início, a câmera para e observa estática Fantine (Anne Hathaway), em seu canto direito. A atriz encara as lentes e começa a cantar a bela canção I Dreamed A Dream. O mais longo close-up do filme pode ser capaz de derreter corações de pedra e é, definitivamente, o melhor momento da atriz em toda sua carreira: cantando (e atuando) por mais de três minutos sem um único movimento de câmara, de frente a ela, Hathaway hipnotiza e emociona. Uma cena poderosa como essa, logo no começo de um longa com mais de duas horas e meia de duração, poderia tornar tudo em seguida parecer menos grandioso, mas isso definitivamente não acontece: o musical é arrebatador.

O diretor Tom Hooper, vencedor do Oscar por O Discurso do Rei, sabe o que faz. Aliado à excelente direção de arte, que criou cenários vibrantes e caprichados, o filme, cuja fotografia também é impecável, dá uma nova vida ao clássico de Victor Hugo. A alternância de planos é muito usada, mas Hooper repete o uso de closes nos atores muitas vezes, permitindo um maior envolvimento com as emoções das personagens, todos muito bem construídos e interpretados.

Os atores, importante ressaltar, são de uma importância crucial. Os Miseráveis praticamente não tem diálogos - tem monólogos, e são todos cantados. O elenco mostra um talento incrível que, aliados à direção primorosa, ao roteiro bem amarrado e à trilha sonora, segura e emociona o espectador ao decorrer da jornada. Além de Hathaway, quem também se destaca é Hugh Jackman, no papel principal. Uma de suas músicas (Suddenly) está indicada ao Oscar de Melhor Canção e merece o prêmio - a cena também é excelente. Jackman também está indicado a Melhor Ator, enquanto Hathaway é a favorita para ganhar  como Melhor Atriz Coadjuvante.

Dividida em duas partes, a história começa quando o personagem de Jackman é libertado da prisão, depois de cumprir pena de 19 anos por roubar um pão - e, na cadeia, ter tentado escapar. Anos depois, sua vida mudou, e ele tem a chance de ajudar Fantine e sua filha, que mais tarde será interpretada por Amanda Seyfried (12 Horas). A vida dos pobres na França é retratada sob a ótica - e a voz - deles. É a hora da revolução?

Completam o elenco Russell Crowe, Helena Bonham Carter e Sasha Baron Cohen, como os vilões da trama. Além deles, a bela Samantha Barks estreia no papel de Éponine e impressiona - uma de suas cenas musicais também está entre as mais emocionantes do filme.

Com oito indicações ao Oscar de 2013 e dois Globos de Ouro conquistados (Melhor Filme Comédia/Musical e Melhor Atriz Coadjuvante para Anne Hathaway, favorita ao Oscar), Os Miseráveis fez por merecer - poderia ser indicado até em mais categorias, como Melhor Diretor, por exemplo. São raros os filmes hoollywoodianos que conseguem envolver tanto o espectador, não com ação, mas explorando bastante os sentimentos dos personagens, por meio das músicas e dos seus closes. Algumas pessoas sairão das salas antes do final, porque, apesar de envolvente, está longe de ser uma obra fácil de ser digerida. Quem assiste à ela está desarmado diante de tantas cenas levemente tocantes e precisa estar disposto a permitir essa vulnerabilidade, essencial para sentir que, em suma, Os Miseráveis é arrasador.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Sete Dias com Marilyn

         
        O maior ícone do cinema, a mulher mais famosa de sua época, Marilyn Monroe, ganha finalmente seu retrato nas telas do cinema. Cinquenta anos após sua morte, a diva é interpretada por Michelle Williams (Namorados para Sempre), três vezes indicada ao Oscar, nessa adaptação do livro homônimo autobiográfico de Colin Clark, que retrata o cotidiano das filmagens de O Príncipe Encantado, na Inglaterra.
         O filme mostra os bastidores do longa de 1957 pela perspectiva de Clark (Eddie Redmayne), um jovem que ambicionava trabalhar com cinema, inspirado pelas obras de Orson Welles e Alfred Hitchcock, e se torna, pelo método da insistência, o terceiro assistente do diretor Laurence Oliver (Kenneth Branagh, de Celebridades, do Woody Allen), que é também o ator principal de O Príncipe. A grande estrela do longa não é ninguém menos que Marilyn Monroe. Entretanto, a imagem da atriz não condiz com sua verdadeira personalidade, que trará uma porção de problemas para a produção.
         Simon Curtis, desconhecido diretor inglês, conseguiu com Sete Dias com Marilyn (My Week With Marilyn) transmitir para as telas todo o caos que as filmagens de um longa com Monroe costumava ser. Mais do que isso, ele sintetizou em uma hora e meia toda a duplicidade da personalidade da estrela. A Marilyn que todos conheciam e até hoje é idolatrada e sua verdadeira face são perfeitamente reconstituídas por Michelle Williams, impecável no papel. Embora seja a perspectiva de Clark que conduza a narrativa, não é de se impressionar que o papel de Williams acabe roubando toda a atenção: assim como em sua curta filmografia, que incluem clássicos como Quanto Mais Quente Melhor e Os Homens Preferem As Loiras, Marilyn rouba a cena e brilha. Nesse filme, ela não é mais a maior estrela que Hollywood já teve. Finalmente, ela é vista como um personagem de extrema complexidade. E Michelle convence com sua atuação premiada pelo Globo de Ouro e merecidíssima do Oscar de Melhor Atriz, que não lhe foi entregue.
        O longa ganha pontos também com o bom desenvolvimento dos personagens, principalmente Laurence Oliver, perfeito como o diretor levado à beira da loucura pelas atitudes da diva, que ajudam a criar o cenário caótico das filmagens. Sete Dias com Marilyn só não é perfeito porque demora para ficar interessante, no início. Todavia à medida que Michelle Williams avança na caracterização de sua personagem, o filme encontra seu caminho, que termina num digno relato e em uma perfeita homenagem à Marilyn Monroe.

Confira o texto do blog (com fotos) sobre a mostra Quero Ser Marilyn Monroe, que rolou em São Paulo no mês de março: http://popwithpopcorn.blogspot.com.br/2012/03/quero-ser-marilyn-monroe.html