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terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Carol



Longa-metragem líder em indicações ao Globo de Ouro e ao BAFTA, Carol retrata um romance entre duas mulheres nos Estados Unidos da década de 1950. Ambientado em uma sociedade que considerava homossexualidade como algo "imoral", a obra constrói com delicadeza e muitas nuances o conflito interno das personagens na escolha entre ceder ao próprio desejo ou se curvar diante das exigências do conservadorismo e do machismo em voga. A direção é de Todd Haynes, responsável pela minissérie Mildred Pierce, da HBO.  



Na trama, inspirada no romance The Price of Salt, de Patricia Highsmith, escrito em 1952 (época em que se passa o filme), Carol (Cate Blanchett) enfrenta um processo de divórcio, onde terá que ser decidida a custódia de sua filha pequena. Ao tentar comprar um presente de natal para a menina, a sua atenção é despertada por uma vendedora da loja, Therese Belivet (Rooney Mara). As duas começam um relacionamento que, pouco a pouco, parece se inclinar a algo maior do que uma amizade.

A direção de Haynes acerta em construir o romance de Carol e Therese aos poucos, causando certa angústia no espectador, que sente a química entre as duas logo no primeiro encontro delas. Equilibrando ternura e tensão, Rooney Mara brilha na pele da garota tímida que nunca sequer sonhou com um relacionamento homossexual e, de repente, se vê tentada a cruzar as barreiras sociais e parar de aceitar o que lhe é imposto. Sua atuação discreta e comovente é o ponto alto do filme, que também tem outra excelente atuação de Cate Blanchett. Carol é uma personagem melancólica, que não perde a pose de mulher durona, mas que parece definhar por dentro, e Cate consegue transmitir isso, sutilmente, em seu trabalho. 

Delicado e envolvente, Carol encontra o ritmo certo para o romance, sem deixar de lado as questões sociais. As atuações são o ponto alto, mas não é só isso que é bom. A cena final, por exemplo, é muito simples, mas chega a ser estranhamente magnífica.

Vale a pena um adendo sobre a autora do livro, publicado no Brasil pela L&PM sob o nome Carol. Antes de The Price of Salt, ela escreveu Strangers on a Train, livro que deu origem à Pacto Sinistro, um dos melhores filmes de Alfred Hichcock. Também é autora de O Talentoso Ripley, que foi adaptado para os cinemas duas vezes, por René Clément m 1960 e por Anthony Minghella em 1999.

| Gabriel Fabri 

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sábado, 16 de fevereiro de 2013

Argo



Em 16 de janeiro de 1980, um anúncio de página inteira do filme Argo foi publicado no Hollywood Reporter e no Daily Variety. Apesar de nunca ter sido lançado, o longa foi um sucesso. Ele fazia parte de uma bem elaborada e arriscada operação da CIA de exfiltração em pleno Irã revolucionário. O resgate serviu como base para o novo filme de Ben Affleck, homônimo ao bem-sucedido plano. Entretanto, subestimando um pouco a avalanche de prêmios que o longa vem recebendo até aqui, não se pode falar o mesmo da obra, indicada a sete Oscars, incluindo Melhor Filme (categoria em que tem gigantescas chances de sair vitorioso).

No ano da revolução iraniana, 1979, a embaixada dos Estados Unidos no Irã foi invadida por parte da população com a exigência de que o governo americano mandasse de volta o xá, que era mantido sob asilo político nos EUA - ele havia governado o país com "mão de ferro" por 25 anos, segundo o próprio protagonista de Argo, Antonio Mendez, em seu livro sobre a operação - e agora os iranianos queriam a cabeça do governante. Por 444 dias, a embaixada esteve sob domínio dos irrequietos revolucionários, que tinham respaldo do governo provisório do Khomeini e mantinham como reféns diplomatas americanos. Durante a invasão, seis americanos conseguiram escapar e encontraram refúgio na casa de autoridades canadenses. A CIA, diante da incapacidade de se chegar a uma solução para os reféns, elaborou um plano para resgatar os seis hóspedes fugitivos. A operação, elaborada por Mendez (Affleck, no filme), precisou da ajuda de Hollywood para se concretizar.

Argo mistura realidade com ficção na tentativa de construir um filme mais ágil e dinâmico. Nos cinemas, a maneira como a operação aconteceu talvez não transparecesse tão incrível - a exfiltração foi feita sem uma gota de sangue derramado (por isso também é tão importante), resultado de uma ideia ousada de procedimento que ia contra regras de todos já feitos anteriormente, como a máxima de ''não chamar atenção'' invertida ao contrário. Affleck preferiu o caminho fácil, tornando o filme mais hollywoodiano. Na operação, os seis foram disfarçados e embarcaram sem problemas - a emoção da história estava em todo o caminho percorrido pra chegar nesse resultado, tanto pela CIA como pelos fugitivos - enquanto no filme, apela-se para a tentativa de aproximar Argo de um blockbuster comum, mais palatável para grandes audiências.

Para que o longa funcionasse melhor, os fugitivos teriam que ter sido mais explorados. A tensão de poderem ser descobertos a qualquer momento, o drama da demora por um resgate, a sensação de esquecimento que eles sentiam foram negligenciados. Porque não mostrar um pouco da fuga deles da embaixada, no início do filme? Os atores que interpretam os fugitivos só tem o devido destaque em uma cena, quando discutem se vão aceitar ou não a ajuda da CIA. No fundo, o único personagem com quem há um certo envolvimento é o protagonista. E também o executivo de Hollywood, interpretado por Alan Arkin, que está ótimo em seu papel.

O filme entretém e diverte, como qualquer um de ação que a indústria americana faz tão bem. Também tem seus exageros, como a inventada sequência de ação envolvendo o avião, que mais pareceu uma solução de última hora para tornar o final mais interessante. Um ponto positivo é que Affleck joga limpo em um aspecto: logo no início, explica um pouco sobre a política iraniana antes da revolução, exaltando o envolvimento dos Estados Unidos e a influência desse país na política do Irã. Mostra que o que aconteceu na embaixada e o borbulhante ódio antiamericano é uma reação ao passado político iraniano, e que os EUA tem muita sujeira nessa história, usando seu poder pensando em seus próprios interesses. O Irã era um aliado estratégico não só pelo petróleo, mas também por sua proximidade geográfica com a URSS.

Argo é um filme mediano e poderia ser ainda melhor se não caísse em soluções fáceis para uma trama tão cheia de nuances e significados. Uma boa definição seria que a obra do Affleck é um "Bourne político" - no fundo, é um entretenimento que tenta não parecer raso. Entretanto, O Ultimato Bourne, por exemplo, bem mais inteligente e elaborado, não teve esse reconhecimento todo da Academia. O que tornou Argo especial? A homenagem a Hollywood (presente também no ganhador do ano passado, O Artista), a conotação política da situação delicada do Irã com os EUA que continua até hoje ou a necessidade de afirmar e exaltar que os americanos realizaram um dos mais improváveis resgates da história? Ou todos esse fatores juntos? Por fim, algo mais para pensar: o Irã prometeu levar aos cinemas sua versão dessa história. Depois de ver Argo, quantos vão se interessar pelo o que eles têm a dizer? Não será difícil para eles tocar em questões mais profundas ou espinhosas do que a obra de Affleck.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O Lado Bom da Vida



Após ganhar o Globo de Ouro de Melhor Atriz, Jennifer Lawrence fez uma participação especial no programa humorístico Saturday Night Live, onde "zombou" das suas concorrentes ao Oscar, premiação em que também é indicada. Para Naomi Watts, que concorre por O Impossível, a piada é de que "o impossível" também seria Watts superar Lawrence, enquanto para Jessica Chastain, de A Hora Mais Escura, o recado foi: "você capturou Bin Laden. Mas em Inverno da Alma, eu capturei um esquilo e o comi". A brincadeira toda partiu em referência ao discurso de agradecimento de Lawrence durante o Globo de Ouro, em que começou dizendo "eu superei Meryl (Streep)", veterana que também concorria na categoria. Famosa pelo blockbuster Jogos Vorazes, aos 22 anos Lawrence é indicada pela segunda vez ao prêmio com o filme O Lado Bom da Vida, onde, novamente, rouba a cena - mas agora, de um elenco de peso.

A trama, baseada no livro homônimo de Matthew Quick, conta a história de Pat Peoples (Bradley Cooper), que acaba de sair do hospício e precisa reerguer sua vida. Ele reencontra sua família renovado - lê clássicos da literatura americana, tenta ser otimista em qualquer situação e pratica exercícios de maneira que chega a ser obsessiva, tudo com o propósito de reatar seu casamento com Nikki. Na reconstrução de sua vida, é apresentado para a bela Tiffany (personagem de Lawrence), precisando lidar não só com seus próprios problemas e dificuldades, mas também com os dela e do próprio pai, protagonizado por Robert De Niro.

Em Inverno da Alma, quando concorreu ao Oscar pela primeira vez, Lawrence carregou o mediano filme nas costas, numa atuação impressionante do começo ao fim. Agora, ela divide os holofotes com outros três atores indicados nesse ano: Bradley Cooper, a australiana Jacki Weaver e De Niro, que não era indicado há 22 anos (a última foi por Cabo do Medo, em 1991). A atuação de Lawrence novamente impressiona num papel de uma pessoa problemática, mas muito forte e com muita vivência. Seu trabalho é cativante e muito memorável, resultando numa Tiffany encantadora. O diretor David O. Russell dirige muito bem o seu elenco e soube se aproveitar muito bem dele - o uso de planos fechados é constante. O close-up desafia ainda mais os atores e, se eles forem bons, permite que suas atuações envolvam ainda mais o espectador.

Russell, indicado a Melhor Diretor e também a Melhor Roteiro Adaptado, se sai bem transpondo o livro para as telas. Muita coisa muda de um para o outro. No romance, por exemplo, é um mistério o que Pat fez para ser internado (ou porque a música do Kenny G o atormenta tanto) - o personagem não faz ideia e só descobre no final. No longa, logo no começo sabemos o que aconteceu. Outra mudança é a maior presença do personagem de De Niro na trama, em detrimento de outros coadjuvantes, cujo time ganhou o reforço desnecessário de um policial. Por fim, o clímax do filme não é o mesmo do livro - uma inversão de fatores inteligente que contribuiu muito para o funcionamento da obra. A essência, porém, se mantêm a mesma, ou melhor, até se acentua: tratar da loucura a partir de personagens trágicos e problemáticos com sutileza e humor, sem cair no deboche, sem perder a ternura. É um drama muito denso levado no maior alto astral, do jeito que a vida deve ser. 

Se não fosse por seu elenco de alto nível, talvez O Lado Bom da Vida poderia ser considerado apenas mais uma comédia romântica hollywoodiana inspiradora. De fato, o filme é até certo ponto previsível. Entretanto, é impossível não se envolver rapidamente, não vibrar com seus personagens e não reconhecer que seu elenco leva a obra a outro patamar. Um patamar digno de oito indicações ao maior prêmio do cinema, inclusive o de Melhor Filme. Talvez esse seja improvável, mas Lawrence, que ganhou o Bafta nesse fim de semana, tem sua estatueta quase garantida.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Os Miseráveis



Em determinado momento de Os Miseráveis (Les Miserables), não muito depois do seu início, a câmera para e observa estática Fantine (Anne Hathaway), em seu canto direito. A atriz encara as lentes e começa a cantar a bela canção I Dreamed A Dream. O mais longo close-up do filme pode ser capaz de derreter corações de pedra e é, definitivamente, o melhor momento da atriz em toda sua carreira: cantando (e atuando) por mais de três minutos sem um único movimento de câmara, de frente a ela, Hathaway hipnotiza e emociona. Uma cena poderosa como essa, logo no começo de um longa com mais de duas horas e meia de duração, poderia tornar tudo em seguida parecer menos grandioso, mas isso definitivamente não acontece: o musical é arrebatador.

O diretor Tom Hooper, vencedor do Oscar por O Discurso do Rei, sabe o que faz. Aliado à excelente direção de arte, que criou cenários vibrantes e caprichados, o filme, cuja fotografia também é impecável, dá uma nova vida ao clássico de Victor Hugo. A alternância de planos é muito usada, mas Hooper repete o uso de closes nos atores muitas vezes, permitindo um maior envolvimento com as emoções das personagens, todos muito bem construídos e interpretados.

Os atores, importante ressaltar, são de uma importância crucial. Os Miseráveis praticamente não tem diálogos - tem monólogos, e são todos cantados. O elenco mostra um talento incrível que, aliados à direção primorosa, ao roteiro bem amarrado e à trilha sonora, segura e emociona o espectador ao decorrer da jornada. Além de Hathaway, quem também se destaca é Hugh Jackman, no papel principal. Uma de suas músicas (Suddenly) está indicada ao Oscar de Melhor Canção e merece o prêmio - a cena também é excelente. Jackman também está indicado a Melhor Ator, enquanto Hathaway é a favorita para ganhar  como Melhor Atriz Coadjuvante.

Dividida em duas partes, a história começa quando o personagem de Jackman é libertado da prisão, depois de cumprir pena de 19 anos por roubar um pão - e, na cadeia, ter tentado escapar. Anos depois, sua vida mudou, e ele tem a chance de ajudar Fantine e sua filha, que mais tarde será interpretada por Amanda Seyfried (12 Horas). A vida dos pobres na França é retratada sob a ótica - e a voz - deles. É a hora da revolução?

Completam o elenco Russell Crowe, Helena Bonham Carter e Sasha Baron Cohen, como os vilões da trama. Além deles, a bela Samantha Barks estreia no papel de Éponine e impressiona - uma de suas cenas musicais também está entre as mais emocionantes do filme.

Com oito indicações ao Oscar de 2013 e dois Globos de Ouro conquistados (Melhor Filme Comédia/Musical e Melhor Atriz Coadjuvante para Anne Hathaway, favorita ao Oscar), Os Miseráveis fez por merecer - poderia ser indicado até em mais categorias, como Melhor Diretor, por exemplo. São raros os filmes hoollywoodianos que conseguem envolver tanto o espectador, não com ação, mas explorando bastante os sentimentos dos personagens, por meio das músicas e dos seus closes. Algumas pessoas sairão das salas antes do final, porque, apesar de envolvente, está longe de ser uma obra fácil de ser digerida. Quem assiste à ela está desarmado diante de tantas cenas levemente tocantes e precisa estar disposto a permitir essa vulnerabilidade, essencial para sentir que, em suma, Os Miseráveis é arrasador.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Lincoln


Ano passado uma obra de Steven Spielberg era indicada ao Oscar por envolver e emocionar o mundo com a jornada de um animal. Cavalo de Guerra é longo, mas nas mãos desse veterano do cinema, resultou num filme terno e de alta qualidade. Indicado em 2013 como Melhor Diretor, Spielberg desponta com Lincoln, favorito para ganhar o prêmio principal e também o recordista de indicações, em 12 categorias. Uma pena que o resultado não é nada além de um arrastado e monótono exemplar de patriotismo.

O Presidente Lincoln pode ser considerado o maior responsável por abolir a escravidão nos Estados Unidos. A trama do filme mostra os bastidores da campanha pela aprovação da 13ª emenda, que proibiu a prática que foi motim da sangrenta guerra civil que dividiu norte e sul de 1861 a 1865. Como já era de se esperar, a figura de Lincoln é exaltada, o que parece ser o único objetivo da obra. 

Enquanto outro forte concorrente da premiação esse ano, Django Livre, quebra paradigmas e ousa ao abordar o tema da escravidão, Spielberg se limita a fazer sua panfletagem disfarçada de filme de época. A política é um tema pertinente, principalmente por Lincoln ter aprovado a emenda por meio de corrupção, o que (ainda bem!) fica evidente para qualquer espectador. Entretanto, ao invés de provocar reflexões pertinentes, o longa se arrasta. Se quem assiste não nutre um sentimento forte pelo político, nem mesmo um interesse pela discussão da "realpolitik" salva.

O único momento realmente bom do filme é o seu clímax, durante a votação da emenda. É quando finalmente a história prende atenção. De resto, Sally Field (vencedora do Oscar por Norma Rae e protagonista do seriado Brothers & Sisters) salva nos momentos em que aparece e rouba a cena, sendo o maior destaque nas atuações, no papel de esposa do Lincoln. Daniel Day-Lewis (Sangue Negro) também está bom em seu papel, mas seu favoritismo ao Oscar parece exagerado (assim como no caso do longa). Leonardo Di Caprio, por exemplo, no papel de escravocrata em Django Livre, merece muito mais (infelizmente, nem foi indicado).

Lincoln é um filme, na melhor das avaliações, mediano. Entretanto, ele possibilita algumas discussões interessantes, além da sobre corrupção. Por exemplo, é inevitável comparar a postura dos dois maiores partidos dos Estados Unidos na época e agora. Lincoln, com seu discurso abolicionista, era republicano - e os segregadores eram, em sua maioria, democratas. Hoje esse último partido tem um negro na presidência e o outro se identifica, ou, pelo menos, flerta, com o discurso preconceituoso do Tea Party. E não é que Lincoln era influenciado por Karl Marx? O mundo dá voltas.


sábado, 19 de janeiro de 2013

Django Livre


No Oscar de 2012, a discussão sobre escravidão voltou à tona com a dramédia Histórias Cruzadas (indicada a Melhor Filme, entre outros prêmios). Embora trate de um período futuro ao tema, está intimamente ligada com sua raiz, o preconceito racial na sociedade ocidental. Anos atrás, A Cor Púrpura era premiado como Melhor Filme, ao mostrar de maneira muito tocante o sofrimento de uma negra, vítima de tal condenável ódio. Para a cerimônia de 2013, o tema volta à tona em Django Livre, mas agora nas mãos do incomparável Quentin Tarantino (Kill Bill, Pulp Fiction), e ele não quer saber de sentimentalismos.

O ano é 1859.O escravo Django (Jamie Foxx) acaba de ser libertado pela figura excêntrica do "dentista" King Schultz (Christopher Waltz). Na verdade, Schultz é um caçador de recompensas e precisa da ajuda de Django para conseguir, vivo ou morto, seus próximos alvos. Mas Django quer mesmo é libertar sua esposa, escrava nas mãos de Calvin Candie (Leonardo DiCaprio).

Tarantino não tem limites ou pudores para expor a crueldade da escravidão e o pensamento vigente na "Casa Grande" da época. Como é de se esperar de seus filmes, tudo é tratado com muita violência estilizada e dozes de humor provenientes de seus exageros. O diretor trabalha extremamente bem e faz com que seu estilo continue divertindo e chocando os espectadores.

Os atores também estão ótimos. Jamie Foxx conduz bem o longa e desperta admiração, curiosidade e até certa raiva em alguns momentos. Enquanto isso, DiCaprio encarna o perfeito escravocrata idiota - meninas não sairão babando por ele do cinema (espero) - num papel dificílimo que retrata todo o preconceito da época. Tem ainda Christopher Waltz, premiado com a Palma de Ouro e o Oscar por Bastardos Inglórios (obra de Tarantino que antecede Django), que também faz um bom trabalho, no papel mais interessante do longa - o único indicado ao Oscar desse ano, na categoria Melhor Ator Coadjuvante.

Tarantino realiza um ótimo entretenimento e continua impressionando com seu estilo único para escrever e filmar suas obras. Django Livre, que teve cinco indicações ao Oscar de 2013 (incluindo Melhor Filme e Melhor Roteiro), é uma obra interessante que não será menosprezada na pomposa filmografia do diretor. Mesmo com as polêmicas envolvendo o filme, que é claramente uma obra contra o racismo, mesmo que de maneira muito particular.


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O Impossível


Uma questão de segundos pôde mudar a vida de milhares de pessoas, ou acabar com ela. Foram mais de 174 mil mortos nos quatorze países asiáticos atingidos pelas ondas gigantes no final de 2004. Oito anos depois da tragédia, a história de uma família de sobreviventes é adaptada para as telas do cinema em O Impossível, do espanhol J.A. Bayona (O Orfanato).

O longa conta a história real de Maria (Naomi Watts), Henry (Ewan McGregor) e seus três filhos, nos momentos que antecedem e sucedem o tsunami. Hospedados num hotel à beira mar, os cinco são surpreendidos pelas ondas. A luta para sobreviver é contada a partir do foco da personagem de Watts, excelente no papel que lhe rendeu indicações de melhor atriz no Globo de Ouro e no Oscar.

O filme cumpre o que se pode esperar de um bom exemplo da categoria de catástrofe. Envolve o espectador gradativamente e consegue aproximar os personagens da audiência com maestria. As cenas, quando não angustiantes, são tecnicamente impecáveis, não só na reconstrução do desastre, mas também para emocionar o espectador. O diretor mostra que sabe utilizar todos os recursos cinematográficos para tornar o longa o mais tocante possível. Uma longa sequência num hospital, no clímax do filme, é o ápice dessa técnica. 

Bayona toma cuidado para não transformar uma bela história real num drama qualquer. O grande êxito do filme é conseguir envolver e emocionar o público com uma força devastadora. Mostra o quanto realmente parece impossível a história que é contada e o quanto é incrível o que realmente aconteceu. Esfrega na cara do público que nada é impossível. Ou, talvez, seja impossível não chorar nesse excelente longa.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Moonrise Kingdom

          
Em Os Excêntricos Tenenbaums, o diretor Wes Anderson se consolidou no cenário internacional apresentando um retrato original de uma família desharmonioza, pelo qual foi indicado ao Oscar de melhor roteiro junto com Owen Wilson. Mais de dez anos separam essa obra de Moonrise Kingdom, indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2012. Na nova empreitada, Anderson sai do tragicômico e procura uma veia mais leve, mas não menos colorida ou peculiar.

Na trama, Sam (Jared Gilman) é um garoto isolado dos colegas num acampamento de escoteiros, onde não é querido por ninguém. A única pessoa que parece se importar com ele é Suzy (Kara Hayward), uma menina com quem troca correspondências e também não tem um único amigo. Ambos resolverão fugir de suas rotinas e realizar uma trilha juntos, até que o capitão Sharp (Bruce Willis) os encontre.

O amor inocente dos protagonistas proporciona diversos momentos de "fofura" ao longo da projeção, que farão vários corações derreterem. A ternura e a veia cômica, essa muitas vezes sutil e outras exageradamente estranha, conquistam e envolvem o público de maneira certeira, embora o filme demore um pouquinho para isso. Trata-se de um filme de Anderson, afinal, e não de uma comédia romântica típica - é evidente a estética do diretor nos planos horizontais, nos cenários (uma das gags visuais de Tenenbaums, dos personagens usarem a mesma roupa, é um exemplo), na construção de personagens esquisitos e na condução da trama.

Moonrise Kingdom pode se associar com ABC do Amor ao resultar em mais um "romance" fofo com crianças. Mas vai além, com a criatividade, o estilo e a irreverência de Anderson. Vale ressaltar a indicação em Cannes, um sinal de que Moonrise pode ter chances de disputar boas estatuetas na época de premiações.
           

quarta-feira, 14 de março de 2012

W.E. - O Romance do Século

       
        No ganhador do Oscar O Discurso do Rei, o irmão gago do Rei Edward VIII é obrigado a aprender a falar em público para assumir a monarquia da Inglaterra, já que a majestade vive um caso de amor proibido pelas regras da realeza e deseja-se casar com a plebeia que ama. Uma das poucas histórias em que o homem é quem abre mão de tudo por uma grande paixão não poderia passar despercebida por outra rainha, sem vínculos com qualquer monarquia senão a da música, Madonna (também atriz, vencedora do Globo de Ouro por Evita), feminista determinada e uma das mulheres mais influentes do mundo, em sua primeira grande produção como diretora.
      Em W.E. - O Romance do Século (W./E.), Wally (Abbie Cornish) é uma mulher casada com um marido ausente e violento e que na história do Rei Edward (James D'Arcy) e Wallis (Andrea Riseborough) encontra certo refúgio para sua degradante rotina matrimonial: uma esperança de amor verdadeiro, que ultrapassa barreiras profissionais e sociais. De seu dia-a-dia é traçado um paralelo com o romance do rei, o tal romance do século no título brasileiro, e logo Wally encontrará um segurança russo, chamado Evgeni (Oscar Isaac), que pode ser a sua outra metade (completando o pronome "WE" (nós) com as iniciais, como Wallis e Edward).
     O filme possui grandes qualidades, principalmente na direção. Desde o início, é notável um enquadramento diferente: a câmera se aproxima muito das pessoas, das expressões faciais dos atores, às vezes até de seus pés e outros objetos. É frenética a mudança de foco, que parece tentar mostrar uma visão mais próxima, paradoxalmente um pouco menos nítida, e também mais distante das situações e emoções dos personagens. O modo como a montagem é realizada, junto com a trilha sonora perfeita, impede o espectador de se cansar com a trama, que é um pouco rasa demais, apesar da direção tentar maquiar isso. O longa começa muito bem, e a história de Wally (a moça do passado mais recente) intriga bem mais que a clássica história de amor, principalmente nas cenas mais dramáticas. A verdade é que W.E. é um filme introspectivo e Madonna tenta fazer o público refletir observando uma realidade próxima (Wally) e uma história que beira um conto de fadas (a de Wallis), mais distante, e que funciona, mesmo que de maneira por vezes superficial.
         A história ganha um tempero a mais que qualquer fã da cantora reconheceria de seu trabalho e da sua personalidade: cenas exóticas como a do homem sem cueca, ou os diálogos entre Wally e Wallis, ácidos e divertidos, em conjunto com as cenas de danças, o figurino requintado, uma visão nostálgica do tempo da realeza, a fixação por crucifixos e a exaltação da mulher. É de Madonna que estamos falando.
         E talvez por ser mesmo obra da cantora mais poderosa da história da música, que já ganhou prêmios até por ser atriz, que o filme tenha sido tão menosprezado pela imprensa? Com certeza, é difícil admitir que alguém pode ser bom em tudo o que faz, ainda mais em seu primeiro trabalho sério como diretora (vamos esquecer o tal Sujos e Sábios por ora), novo ofício que assume dizendo-se inspirada por grandes cineastas europeus. Entretanto, o filme tem seus defeitos e está longe de ser a obra-prima da canção tema, "Masterpiece" (vencedora do Globo de Ouro e incluída no novo álbum MDNA) - aliás, vale a pena ficar até o final dos créditos para ouvi-la.
         O longa peca no seguinte sentido: se a intenção era contar a história do rei que abdicou ao trono para casar com mulher que amava pelos olhos dela, isso deveria ter sido mais explorado. As cenas de época ficam numa introspecção que nada acrescenta com a descoberta do clímax do filme, que aliás, é bem menos empolgante que o início. Tal ponto de vista é deixado para o final e as cenas de época se tornam rasas, mesmo com as câmeras tentando aproximar o público da história. A história que se passa mais recentemente já é mais substanciosa e melhor explorada, mas merecia um final melhorzinho, menos previsível, e sem alguns clichêszinhos como um colar de pérolas se destruindo. Tais defeitos prejudicam a obra, obviamente, mas a direção de Madonna segura a barra de seu roteiro para que o resultado final seja positivo.
          Em suma, o filme é bom. Madonna mostra que tem potencial para diretora, e como uma amadora ela fez um trabalho estupendo. Talvez se ela deixasse o roteiro a cargo de outra pessoa, o filme pudesse ser ainda melhor. O que não pode é menosprezá-lo tendo em vista os baixos que ela teve em sua carreira como atriz ou sua inexperiência: ela é uma iniciante como outro diretor iniciante qualquer, sem formação acadêmica, só que com mais orçamento para fazer dar certo. W.E. tem seus momentos de maestria, nos faz pensar (não tanto quanto almejava, porém) e entretém. Dá pra se contentar e muito com isso.

Confira também meu texto sobre o retorno de Madonna à música no site de Cultura Geral da Cásper Líbero:  http://www.casperlibero.edu.br/noticias/index.php/,n=7380.html

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret

     
       Você não precisa conhecer a história do cinema ou saber quem é Georges Méliès para embarcar, como as crianças, na Paris pós I Guerra recriada por Martin Scorsese. Em seu primeiro filme infantil, A Invenção de Hugo Cabret (Hugo), um dos diretores mais importantes da atualidade, sete vezes indicado ao Oscar (e com grandes chances de ganhar o prêmio pela segunda vez esse ano), cria uma aventura para explicar um pouco a história cinematográfica para as novas gerações, e que terminou por ganhar o prestígio dos cinéfilos.
       Na trama, Hugo Cabret é um órfão que mora numa estação de trem, dando corda nos relógios. Por algum motivo, vive fugindo do inspetor da estação, interpretado por Sasha Baron Cohen (Borat). Um dia, seu caderno, que possui desenhos de uma espécie de robô, é confiscado por um velhinho que o acusa de ser um ladrão. Logo ele vai conhecer a sobrinha desse homem e juntos eles vão embarcar numa aventura na história da sétima arte.
       Para o público em geral, uma aula sobre filmes, com as aventuais cenas de ação e lições de moral que um longa infantil sempre tem. Para quem conhece os primórdios do cinema, Hugo Cabret é uma homenagem deliciosa de se acompanhar. É rever toda aquela época, inclusive cenas dos filmes originais, como A saída dos operários da fábrica Lumiere e a Viagem à Lua, esse o principal homenageado, em meio a uma obra feita mais de um século depois, em 3D e com muitos efeitos, principalmente na construção de uma iluminada Paris. O visual do filme ainda lembra um outro clássico, Metrópolis (1927, de Fritz Lang), com tantos relógios, engrenagens e o robô.
        O resultado final é ótimo, entretanto poderia ter algumas melhoras. O personagem de Sasha Cohen é extremamente irritante para o espectador e ele não precisava realmente ser tão chato e caricatural. E o pior é que o personagem só traz algumas complicações na história sem muita importância. Poderia ser facilmente substituído por outro qualquer, que soubesse transmitir melhor seus traumas, ou ter sua presença muito reduzida ao longo da trama, que a obra poderia se tornar bem mais agradável.
        Com onze indicações ao Oscar, o filme é bom, tendo muitas chances na disputa com O Artista pelo prêmio principal da noite. Resta saber se a Academia premiará um filme francês que homenageia os primórdios de Hollywood e toda a sua indústria ou se sairá vitorioso esse longa americano que homenageia o início do cinema como um todo, que começou na Europa. De qualquer forma, Scorsese se afirma como um ótimo diretor, mais uma vez.    

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Histórias Cruzadas

   
       Como você se sentiria cuidando do filho de uma pessoa enquanto o seu próprio é criado por outra? Essa é uma das perguntas que Aibileen, interpretada pela duas vezes indicada ao Oscar Viola Davis (Dúvida), deve responder no início de Histórias Cruzadas (The Help). Tal ponto é apenas um dos desafios da dura rotina dessa empregada doméstica, que será peça importante nesse longa que explora de maneira envolvente os preconceitos da sociedade americana em meados do século XX.
        Na trama, Eugenia (ou "Skeeter"), interpretada por Emma Stone (Amor a toda prova), é uma aspirante a jornalista que, sendo grande admiradora da empregada que a criou e observando o modo como elas são tratadas na sua cidade natal, em Mississipi (o Estado americano mais segregacionista da época), resolve escrever um livro contando o dia-a-dia das empregadas domésticas, pelo ponto de vista delas. Tal livro é A Resposta, de Kathryn Stockett, no qual esse filme foi baseado.
        O longa mostra todo o racismo e a segregação da sociedade americana em relação aos negros e reconstrói um cenário onde foi preciso muita coragem para as domésticas resolverem se expressar e colaborar para a realização do livro. A relação patroa e empregada é friamente retratada e chega, algumas vezes, a chocar o espectador de hoje. Mas em meio a todo esse preconceito, essas mulheres podem ter a vez de finalmente terem uma voz.
        Os personagens são muito bem construídos, o que justifica a longa duração da obra. O filme cumpre o que promete, e o grande mérito é das atrizes, principalmente Octavia Spencer, no papel da doméstica Minny. Entre as patroas, Bryce Dallas Howard (A Dama na Água, Manderlay) e Jessica Chastain (A Árvore da Vida) também merecem destaque, e Emma Stone vira mera coadjuvante em meio a tanto talento, mas faz bonito no que talvez seja o papel mais importante de sua carreira até agora. Das quatro indicações ao Oscar que o filme recebeu, uma é a de melhor filme e as outras três são para as atrizes: Davis, Spencer e Chastain. Seria uma grande injustiça nenhuma delas sair premiada esse ano, sendo Spencer a melhor, que concorre como coadjuvante com Chastain.
         Uma bela história com roteiro afiado e atrizes excelentes, Histórias Cruzadas não tem a força e a emoção de outro filme sobre o tema, o clássico A Cor Púrpura, de Steven Spielberg. Entretanto, é um belo filme, que deve agradar a todos e mereceu todas as indicações a que concorre e o grande sucesso de bilheteria que foi nos EUA.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O Artista

     
      Na passagem do cinema mudo para o falado, que começou em 1927 com o lançamento Hollywoodiano O Cantor de Jazz, muitos astros perderam os seus empregos por suas vozes não serem das mais agradáveis, seja por falta de habilidade ou sotaque acentuado. No final de 1929, todos os filmes produzidos na indústria cinematográfica eram falados. O que aconteceu com esses astros já foi tema de Crepúsculo dos Deuses e Cantando na Chuva e agora é retomado no filme mais comentado e mais premiado da temporada: a produção francesa O Artista (The Artist).
        O ator vencedor do Globo de Ouro e indicado ao Oscar por essa obra é Jean Dujardin, que interpreta George Valentin, uma grande celebridade de Hollywood. Sua carreira termina com a chegada do som às produções, enquanto uma fã (Bérénice Bejo, indicada ao Oscar) que se tornou atriz por sua causa, por acidente, alcança o estrelato no cinema falado.
        O filme é muito semelhante à Cantando na Chuva, principalmente com sua premissa. Os dois falam do mesmo conturbado período de transição com foco nos atores, e O Artista é uma homenagem explícita a esse musical que homenageia os primórdios de Hollywood. Entretanto, enquanto o primeiro é cantado e bem colorido, o outro faz uma verdadeira viagem ao passado e é mudo e em branco e preto. Ou seja, é uma obra que se destaca por usar uma estrutura não utilizada a mais de oitenta anos.
        O contraste com as superproduções de hoje, com uso de 3D e computadores, como Avatar e A Invenção de Hugo Cabret, o outro forte candidato ao Oscar de melhor filme (que curiosamente também é um tributo ao início do cinema), é gritante. O modo como a história é apresentada é o que mais chama a atenção para o filme, mas engana-se quem pensa que é só por essa "inovação" que ele é considerado o melhor filme do ano para muitos. Todo o clima e o charme das comédias de antigamente, as sutis brincadeiras com o cinema mudo e uma história cativante, bem escrita e muito bem dirigida e atuada são o que fazem de O Artista a obra prima que ela é.
        Na contramão de quem considera originalidade o principal fator ao avaliar positivamente um filme, O Artista é bom porque resgata elementos nada originais da história cinematográfica de uma maneira envolvente e divertida, entretendo e despertando nostalgia até mesmo em muitos que não viveram a época e assistem aos clássicos mudos (se é que assistem) com um abismo temporal gigantesco. Cinema homenageando o cinema também não é novidade (lembre-se de Fale com Ela, de Pedro Almodóvar, e o bizarro tributo que ele criou, ou mesmo do já citado Cantando na Chuva), todavia O Artista é uma homenagem digna de ser aplaudida, como os filmes antigos são aplaudidos logo no início desse longa.
      

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A Dama de Ferro

   
        Meryl Streep, uma das melhores atrizes (senão A melhor) da atualidade, duas vezes vencedora do Oscar, dezessete vezes indicada, desponta em A Dama de Ferro (The Iron Lady) como a favorita para ganhar o prêmio de Melhor Atriz no Oscar 2012. De baixo de muita maquiagem, Meryl é Margaret Thatcher, ex-primeira-ministra britânica e uma das personalidades mais odiadas do mundo. O contraste entre atriz e personagem só consegue ficar maior quando consideramos que Streep é esquerdista e Thatcher representa todo conservadorismo do mundo político atual. Entretanto, com uma atriz brilhante como Streep e uma personalidade tão controversa como a política, o filme fica aquém do esperado.
        Nessa tentativa de se fazer uma biografia, exaltando as qualidades de Thatcher, acompanhamos a "dama de ferro" já muito velha e debilitada alucinar com seu marido já falecido e relembrar cenas de seu passado, em épocas em que tinha forças para fazer a diferença e mudar o mundo. O presente é intercalado com flashbacks que passam brevemente pela sua infância e sua ascenção política, até a sua administração no comando da Grã-Bretanha.
        Meryl mostra que, ao contrário de Thatcher, ainda está em boa forma, fazendo um trabalho brilhante. Toda a força que Margaret teve para se tornar a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra em todo o Ocidente, para aplicar medidas frias e impopulares, ignorando até mesmo seus conselheiros próximos, toda a sua determinação para conseguir o que queria, é mostrada nas telas de maneira indiscutivelmente perfeita. A diretora Phyllida Lloyd (Mamma Mia!) conseguiu arrancar de Streep a Margaret Thatcher perfeita, a corajosa, a feminista, a idealista. Compare um discurso da verdadeira com a de Meryl: a semelhança entre as duas passa a ser gritante.
        Entretanto, essa figura exaltada de Thatcher é mais que incongruente com a realidade do mundo atual, em que as consequências das medidas que ela tomou na sua gestão são sentidas nos países que adotaram o neoliberalismo. Tais consequências já foram sentidas, claro que não com tanta intencidade, na sua administração e o ódio por Thatcher é mostrado sim, mas usado para fortalecer a imagem de Thatcher como a mulher que acha que está salvando a economia da Inglaterra e que não se importa com os "efeitos colaterais do seu remédio". A mulher cuja bravura supera qualquer manifestação do povo que a odeia.Trabalho muito bem feito, fazer o público sentir certa admiração por ela com a situação econômica atual.
        O problema do filme não é o estrelismo ao redor de Thatcher e sim ao mostrar sua decadência. A velhice da ex-primeira ministra aparece mais do que os momentos em que ela assumiu o cargo. Uma simples cena dela atualmente no início e no final já dariam conta do recado, mas é mesmo necessário mostrar tanto essa sua nova fase? Não há valor nenhum em ficar mostrando sua velhice, não só porque nada acontece, mas também porque ela não tem condições de julgar seu passado, como mostra o filme. Muito da sua administração, ou mesmo de sua ascensão, poderia ter sido colocado em detrimento desses momentos pós fim de carreira de Margaret. Momentos que tentam mostrá-la de modo mais humano, mais frágil, ao contrário do que é visto ao longo de sua trajetória política, abalando um pouco a exaltação de Margaret ou aumentando-a ainda mais? Tal paradoxo prejudica muito o longa.
         Em conclusão, a atuação de Meryl Streep sustenta o filme até o fim e se torna o único grande atrativo da obra. Embora não possa ser classificado como ruim, ele deixa a desejar, e bons filmes não são feitos apenas de atores incríveis. Mas essa atriz, realmente, merece ser vista no que pode se tornar o papel mais memorável de sua carreira.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

O Homem que Mudou o Jogo

   
      Uma agradável surpresa nessa época de premiações é O Homem que Mudou o Jogo (Moneyball). Baseada no livro de Michael Lewis, a obra indicada ao Oscar de Melhor Filme e Melhor Ator (Brad Pitt) é a que menos se destaca entre os concorrentes, todavia apresenta uma história surpreendentemente cativante e bem realizada.
       Na trama, Pitt é Billy Beane, administrador de um time de baseball, esporte que nos EUA é quase equivalente ao futebol no Brasil. Sua equipe enfrenta dificuldades técnicas e financeiras, que se agravaram com a saída de importantes jogadores, o que leva o personagem a classificá-la como "abaixo dos times pobres e de 15 metros de merda". Diante dessa visão pessimista, Beane percebe que a maneira de lidar com as saídas dos integrantes está errada e que ele precisa reinventar o grupo para vencerem os grandes clubes. Quando se encontra com um jovem recém-formado em economia, depara-se com uma estratégia baseada em matemática que consiste em contratar jogadores que nunca seriam aceitos num plantel de peso. Mas será que tal medida arriscada dará certo?
        Usar um esporte como plano de fundo para falar de coisas maiores não é novidade em Hollywood. Clint Eastwood fez recentemente uma obra prima com Invictus, que tinha o rugby como parte essencial da trama. Em ambos os filmes os diretores conseguiram fazer quem não entende ou simplesmente não gosta de assistir a esportes apreciá-los por uns momentos. Bennet Miller (Capote), que dirige Moneyball, não consegue envolver tanto o espectador nos jogos como a proeza realizada por Eastwood (de longe um diretor muito mais habilidoso), entretanto articula a história real de Billy Beane e sua tentativa ousada de salvar seu quadro de maneira muito interessante, sem deixar o esporte em si se destacar nem por um segundo sob seu personagem principal, seus dilemas e desafios. A montagem com cenas reais das partidas ajuda a reforçar que o que está nas telas não é ficção e os flashbacks de Beane também são utilizados com firmeza.
         Brad Pitt tem toda a força que seu personagem deveria transparecer e sua atuação é um grande destaque no filme. Ele já havia sido indicado anteriormente por Doze Macacos e O Curioso Caso de Benjamin Button, e realmente mereceu ser lembrado na cerimônia do Oscar em 2012. Nenhum dos outros atores ofusca seu brilho, com exceção de Casey Beane (Kerris Dorsey, da série Brothers and Sisters), no papel de sua filha, que tem importância enorme para a parte mais fofa do filme, que talvez seja o motivo do maior sorriso que se pode dar ao assisti-lo. Philip Seymour Hoffman (Tudo Pelo Poder) está presente mais para atrair público, já que seu papel não exige nada do ator, que poderia ter sido substituído por um desconhecido qualquer, o que é meio decepcionante para quem o viu em Capote, o primeiro trabalho do diretor Miller.
          Assim como Invictus não é um filme sobre futebol americano, O Homem Que Mudou o Jogo não é sobre baseball. Amantes do cinema e não dos esportes podem respirar aliviados e assistir a ele com a certeza de que será envolvido nessa boa obra. Impossível não simpatizar com ela.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Millennium - Os Homens Que Não Amavam As Mulheres

   
       Sempre que algum filme de grande apelo comercial não é feito em Hollywood, surge um remoto interesse em refilmá-lo em inglês e embarcar no sucesso estrangeiro. Recentemente, foi assim com o espanhol [REC] e o sueco Deixe Ela Entrar. Quando foi anunciado que David Fincher (indicado ao Oscar por A Rede Social e O Curioso Caso de Benjamin Button), um dos melhores diretores da indústria americana, comandaria o remake de Os Homens que Não Amavam As Mulheres (na verdade, uma readaptação do bestseller de Stieg Larsson, homônimo), surgiu a esperança de que o filme não seria apenas uma refilmagem desnecessária em língua inglesa com atores famosos. Se era necessária a nova versão do filme, talvez não, mas ela, com certeza, supera a versão sueca com estilo e muita tensão.
       Na trama, Mikael Blomkvist (Daniel Craig, o atual James Bond) é um jornalista condenado por difamação por bater de frente com um dos grandes magnatas da indústria sueca, numa reportagem da revista Millennium, dirigida por ele e pela sua grande amiga Erika Berger (Robin Wright). Afastando-se da revista, recebe a proposta de investigar o assassinato de Harriet Vanger que aconteceu 40 anos antes, e cuja lista de suspeitos limita-se à sua família, repleta de rivalidades. Paralelamente, vemos a investigadora mais peculiar da Milton Security, Lisbeth Salander (Rooney Mara, indicada ao Oscar e ao Globo de Ouro pelo papel), enfrentar problemas com seu novo tutor. O elo entre eles? Lisbeth sabe tudo sobre Blomkvist, já que fez uma investigação pessoal sobre o jornalista.
        Do livro para as telas, muito se perde. Mas a versão de Fincher engloba grande parte das páginas, sem grandes cortes drásticos e, aliás, se apropria bem melhor do livro que a sueca, apesar de fazer algumas modificações, que não devem incomodar os leitores. Uma melhor atenção aos relacionamentos de Mikael (ignorando o com Cecília, infelizmente) e à personagem de Lisbeth, sutil toques de humor e um tom de cores mais escuras se somam à agil trama, conduzida brilhantemente por Fincher. O diretor prova novamente, depois de Zodíaco e Seven - Os Sete Crimes Capitais, que consegue grudar o espectador nas mais complexas tramas de investigação e, nos momentos em que abusa da carta branca que recebeu pra fazer um filme pesado e adulto, intimida com força de maneira que o filme original nem chegou perto. Fincher ainda apela para uma trilha sonora que, nos momentos mais monótonos (Mikael analisando fotos em seu notebook, por exemplo), prende a atenção de um jeito que faz quem assiste se tornar quase obssecado pelo mistério, e em outros momentos, como na impactante abertura do filme, funciona de um modo impecável como a direção de Fincher.
        Quanto aos atores, Craig está muito bom na pele do Super-Blomkvist (apelido que não é mencionado no filme, infelizmente, talvez por não haver brechas para explicá-lo), mas quem rouba a cena, assim como Noomi Rapace (Sherlock Holmes: O Jogo das Sombras) no original, é Rooney Mara no papel da garota da tatuagem de dragão. Sua presença intimida e agrada e sua atuação é a Salander saída dos livros. Por mais estranha que a personagem seja, é impossível não simpatizar com ela, como na obra de Larsson. Merecida a indicação ao Oscar, que ela deve levar no próximo filme (se houver e se ela continuar assim).
        Se Stieg Larsson não tivesse morrido, com certeza estaria honrado com essa nova adaptação do primeiro livro da sua trilogia. David Fincher mantém quem a assiste tão intrigado quanto quem leu o livro ficou ao lê-lo, e esses ficarão de novo ao assistir a essa obra. Em suma, a Millennium americana começou de maneira envolvente e intimidadora. Uma obra para adultos com coragem de ser explicitamente para eles. Não deve decepcionar ninguém, só perturbar um pouquinho.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Globo de Ouro 2012

     
      Foi ontem a 69ª edição do Golden Globe Awards, prêmio dado por jornalistas da Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood anualmente ao melhor do cinema e da televisão. Os principais prêmios da noite não foram nenhuma surpresa, mas os cem votantes surpreenderam ao consagrar grandes nomes em detrimento de novos.
      The Artist, filme mudo e em preto e branco, se saiu melhor com o prêmio de melhor filme comédia/musical, melhor trilha sonora e melhor ator para Jean Dujardin. O melhor drama ficou para Os Descendentes, que não levou melhor diretor como esperado. Apesar do favoritismo do filme de Alexander Payne, achei possível que Histórias Cruzadas levasse a melhor. Não aconteceu.
      O destaque foi o reconhecimento de alguns dos melhores de Hollywood. Martin Scorsese surpreendeu ganhando melhor diretor; Meryl Streep ganhou melhor atriz por interpretar Margaret Tatcher em A Dama de Ferro, numa categoria disputada por dois nomes novos, mas de peso: Viola Davis (Histórias Cruzadas), que já foi indicada ao Oscar anteriormente, e Rooney Mara (Millenium - Os Homens Que Não Amavam As Mulheres). Outro grande ator premiado foi George Clooney, por seu papel no filme vencedor na categoria drama. Kate Winslet e Jodie Foster sairam de mãos abanando com Carnage, mas a primeira ganhou seu terceiro Globo de Ouro por um papel na série Mildred Pierce.
      E, mais uma vez, o pop ganhou destaque na categoria de Melhor Canção: depois de Cher ano passado, com a canção do filme Burlesque, Madonna saiu vitoriosa com seu segundo Globo de Ouro (o primeiro foi em 1997, de melhor atriz por Evita), por Masterpiece, que faz parte da trilha sonora do seu primeiro filme relevante como diretora, W.E. - O Romance do Século. A vitória, que ninguém esperava, causou barulho na internet por causa de declarações do cantor Elton John no tapete vermelho de que seria impossível a Rainha ganhar esse prêmio. A cara dele agora circula em .gif pelos sites de música pop da Internet. Madonna ainda arrancou risadas ao brincar com Ricky Gervais, o apresentador da cerimônia, durante o anuncio do prêmio de melhor filme estrangeiro. Ricky, ao anunciar a "rainha do pop", brincou com Elton falando que não era ele, e apresentou a diva como "ainda uma virgem", que serviu de pretexto para ela mostrar que tem língua afiada.
     Meryl Streep, Madonna, George Clooney, Martin Scorsese, Kate Winslet. Grandes nomes que saíram premiados na noite do dia 15 de janeiro, não dando chances para atores como Ryan Gosling ou Rooney Mara faturarem seus primeiros prêmios. Mas o importante da noite foi mesmo beber champagne e agora nos resta torcer para que The Artist estréie logo por aqui (o filme ainda não foi comprado pelos distribuidores brasileiros).

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Cavalo de Guerra

   
As relações de pessoas com animais são apenas um tema de Cavalo de Guerra (War Horse), novo filme de Steven Spielberg. O diretor responsável pelos quatro filmes do Indiana Jones, entre outros clássicos como E.T. e A Cor Púrpura, retorna a mais um filme de guerra. Depois da II em Resgate do Soldado Ryan, agora é a I Guerra que é abordada, com o maior perfeccionismo.

A trama é baseada no livro infantil de Michael Morpurgo, que chamou atenção de Spielberg quando foi encenado no teatro em Londres, com marionetes dos cavalos em tamanho natural, movimentadas por homens visíveis à platéia. Para ser mais realista, sem deixar de ser emocionante, foram usados cavalos de verdade (exceto em algumas cenas perigosas para eles). No filme, o cavalo Joey é criado por um menino cuja família encontra-se com preocupações financeiras, que são solucionadas com a venda do animal. Esse é enviado à guerra e tentará sobreviver em meio às desastrosas batalhas que marcaram o choque de imperialismos que deu fim à Belle Époque.

Acompanhamos o cavalo assumindo como personagem principal do filme. Suas emoções, seus desafios e suas relações são percorridas como se ele fosse um humano. De fato, salvo alguns coadjuvantes, torcemos pelo cavalo e não pela nossa própria espécie ao decorrer dos fatos. Isso porque Spielberg ambienta a trama na pior obra da humanidade (até então) e expõe o horror dos conflitos, desde um ataque surpresa trágico até os momentos mais tensos nas trincheiras. Em meio a tudo isso, vemos, pela maneira como o cavalo é tratado por alguns, um traço de humanidade que os homens parecem perder nas batalhas.

Anos de experiência dão ao diretor controle total sobre a longa trama e sob os espectadores. Mesmo no começo do filme, onde muitos diretores costumam se arrastar, o tempo passa rápido, até demais. É uma prova de que ele sabe fisgar o público. A segunda é o resultado final: belo, emocionante e terno. Assim, o cavalo é uma metáfora para o que há de melhor em nós e a guerra para o que há de pior. Mas os significados da obra não se limitam aí: o amor, a coragem, a perseverança, a família, tanto nos humanos quanto no animal são um feixe de esperança em meio ao caos, deixando uma bela mensagem.
     

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Tudo Pelo Poder

    
       Um ano antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos e em meio a sensação de decepção global com o governo de Barack Obama, chega o novo filme de George Clooney, com ele no papel principal e assumindo as câmeras pela 4ª vez (dirigiu também Amor Não Tem Regras e Boa Noite e Boa Sorte). Na pele de um governador democrata, concorrendo pela candidatura à presidência com um senador menos popular, Clooney representa o candidato ideal para os progressistas e mostra que no jogo da política as coisas são bem complicadas.
       A disputa é pelos votos da cidade de Ohio. Apesar da vantagem de Mike Morris (Clooney) sob o outro candidato, a vitoria desse poderia resultar numa virada de jogo. Em meio ao complexo sistema das primárias nos EUA, acompanhamos o coordenador da campanha de Morris, Paul (Philip Seymour Hoffman), e seu assessor de imprensa Stephen (Ryan Gosling, de Amor a Toda Prova), junto com Tom Duffy (Paul Giamatti), o coordenador da campanha do outro candidato. Quatro personagens aparentemente muito éticos que enfrentam um ponto decisivo da eleição.
       Tudo Pelo Poder (The Ides of March) revela a sujeira dos bastidores da política. Sem amarras, o diretor  construiu, com inteligência, um thriller extremamente atual. Só reparar nos discursos de Morris, em como eles são atuais e como criticam a política americana e seus políticos (em muitos momentos é possível estender as críticas a Obama), além de várias ideologias desgastadas dos republicanos. Clooney explora, sutilmente, os podres de uma sociedade inteira e ainda põe em questão o quanto o ser humano pode ir contra seus valores para conseguir algo. Mesmo que sejam democratas.
      Diferentemente dos seus dois últimos projetos, o diretor aqui revela agilidade para conduzir a trama, de modo a realmente entreter quem assiste sem se dispersar de toda a mensagem moral (ou amoral?) por trás da obra. O filme realmente prende o expectador por meio de um roteiro também inteligente, enredo refinado e, claro, um elenco de dar inveja. Gosling, no papel principal do filme, recebeu a indicação ao Globo de Ouro de melhor ator, justíssima, junto com outra indicação por Amor a Toda Prova, marcando definitivamente 2011 como o melhor ano de sua carreira (também estréia Drive, destaque no festival de Cannes desse ano). Consegue se provar um excelente ator ao lado de consagrados ícones do cinema, como Hoffman e o próprio Clooney. Os coadjuvantes também não deixam nada a desejar.
       Achar um defeito em Tudo Pelo Poder não é tarefa fácil. Uma trama complexa, ágil e atual, merecedora das três indicações ao Globo de Ouro (melhor filme, ator e diretor) que recebeu. Sem dúvida o melhor filme de Gosling em frente às câmeras e o melhor de Clooney por trás delas.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A Pele Que Habito

   
Pedro Almodóvar é o principal exemplo de contracultura espanhola. Em seus filmes pouco comuns, consagrou-se com sua liberdade para tratar de temas sexuais, provocações e paixões. Desde seu primeiro filme, o caseiro e trash Pepi, Luci e Bom e Outras Garotas da Turma (1980) até este recente A Pele Que Habito ( La Piel que Habito, 2011), o cineasta misturou drama e comédia, a subgêneros como o melodrama e o cinema gay, passando pelo cinema noir, sempre com grandes personagens femininas.

Foi uma surpresa quando se anunciou que Almódovar faria um filme de suspense. Nesse, Antonio Bandeiras retorna as lentes do cineasta depois de Ata-me (1990) como um cirurgião que, abalado pela morte de sua mulher, que teve seu corpo extremamente queimado, desenvolve uma pele artificial resistente à picadas de inseto e, é claro, ao fogo. Essa pele é vestida por uma mulher muito semelhante à sua falecida esposa.

Na trama, a pele não é de tão importância quanto se parece no começo. É apenas o pretexto para se dar início a uma história que será contada em flashbacks e que trará à tona surpreendentes revelações. Com várias cenas fortes, como de característica do diretor, o filme se destaca a usar de um elemento que nunca se envelhece nos thrillers: nada é o que parece. E a maneira que o filme se desenvolve, tenso e sutilmente impactante, colabora para um clima de suspense diferente que Almodóvar conseguiu atingir nessa obra. O filme se assemelha no tema com o sueco A Centopéia Humana (não entrarei em detalhes para não entregar spoilers), mas o clima aqui proporcionado é um terror oposto. Ninguém vai morrer de medo na cadeira e sair berrando, pelo contrário, a história nos põe em transe e o suspense é apenas alimentado de modo a querer-se descobrir o quanto antes o passado dos personagens.

Assim, o diretor se superou nesse último trabalho: trouxe o seu universo polêmico de maneira surpreendente a um gênero até então não explorado por ele. Sem grandes reflexões filosóficas ou melodramas, A Pele Que Habito é uma obra-prima pura, cuja indicação ao Globo de Ouro de melhor filme não foi nada menos do que merecida.

domingo, 23 de outubro de 2011

Onde o Amor Está!

  

       Impossível não pensar em "Coração Louco" (Crazy Heart, 2010), no qual Jeff Bridges ganhou o globo de ouro de melhor ator pelo papel principal, ao assistir "Onde O Amor Está" (Country Strong). Todos os elementos estão lá: a música country, os problemas com a bebida, a carreira por água abaixo por causa dela, relacionamentos instáveis e a chance de se reerguer. Poderia se dizer que sai Bridges e entra Gwyneth Paltrow, mas apesar das semelhanças, o filme desta atriz também tem seu brilho.
       A trama neste é bem diferente: Kelly Canter (Paltrow) é uma grande estrela americana, entretanto perdeu o bebê bêbada em um show em Dallas e foi parar numa clínica de reabilitação, onde se envolveu com um anônimo cantor de bares, Beau Hutton (Garrett Hedlund), traindo seu marido que também é seu produtor. Este fará de tudo para que Kelly dê a volta por cima e retome sua carreira de volta ao topo, mas ele começa a se interessar por Chiles Staton (Leighton Meester, da série Gossip Girl), uma ingênua jovem que sonha em se tornar uma estrela tão grande quanto Kelly, mas que para isso precisará da ajuda de Beau para superar suas inseguranças.
        Enquanto "Coração Louco" se sustentou majoritariamente em Bridges, "Country Strong" tem outros atrativos além da excelente atriz principal: os três coadjuvantes formam uma rede de conflitos bem desenvolvida e essencial para a construção da trama. Claro que Gwyneth, que já ganhou o Oscar por "Shakespere Apaixonado" e quase salvou "Duets - Vem Dançar Comigo" com a música "Cruisin'", é o grande destaque do filme e sua atuação (e as perfomances) é mais uma vez cativante e digna de aplausos. Fora o elenco, as músicas também valem por si só, não só as da Paltrow, como também as de Meester e Hedlund. Impossível não se apaixonar pelo dueto dos dois "Give In To Me" ou por Leighston arrasando ao cantar 'Words I Couldnt Say', só pra citar alguns exemplos.
       O enredo do filme é muito bom e não deve decepcionar ninguém, principalmente junto com um elenco e uma trilha sonora tão boas. É uma pena que a força do country seja fraca no Brasil e o filme, indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme (comédia ou musical), tenha saído diretamente em DVD. Ver, na tela grande, Gwyneth Paltrow cantando "Coming Home", música indicada não só ao Globo de Ouro quanto ao Oscar de Melhor Canção,  já seria um espetáculo por si só. Mas a obra por completa também valeria ver no cinema, assim como vale ver em casa. Afinal, é sobre música, amor e fama: aquela combinação que pode dar o que falar.     

Abaixo, a perfomance de Paltrow no Oscar 2011: