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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Os Miseráveis



Em determinado momento de Os Miseráveis (Les Miserables), não muito depois do seu início, a câmera para e observa estática Fantine (Anne Hathaway), em seu canto direito. A atriz encara as lentes e começa a cantar a bela canção I Dreamed A Dream. O mais longo close-up do filme pode ser capaz de derreter corações de pedra e é, definitivamente, o melhor momento da atriz em toda sua carreira: cantando (e atuando) por mais de três minutos sem um único movimento de câmara, de frente a ela, Hathaway hipnotiza e emociona. Uma cena poderosa como essa, logo no começo de um longa com mais de duas horas e meia de duração, poderia tornar tudo em seguida parecer menos grandioso, mas isso definitivamente não acontece: o musical é arrebatador.

O diretor Tom Hooper, vencedor do Oscar por O Discurso do Rei, sabe o que faz. Aliado à excelente direção de arte, que criou cenários vibrantes e caprichados, o filme, cuja fotografia também é impecável, dá uma nova vida ao clássico de Victor Hugo. A alternância de planos é muito usada, mas Hooper repete o uso de closes nos atores muitas vezes, permitindo um maior envolvimento com as emoções das personagens, todos muito bem construídos e interpretados.

Os atores, importante ressaltar, são de uma importância crucial. Os Miseráveis praticamente não tem diálogos - tem monólogos, e são todos cantados. O elenco mostra um talento incrível que, aliados à direção primorosa, ao roteiro bem amarrado e à trilha sonora, segura e emociona o espectador ao decorrer da jornada. Além de Hathaway, quem também se destaca é Hugh Jackman, no papel principal. Uma de suas músicas (Suddenly) está indicada ao Oscar de Melhor Canção e merece o prêmio - a cena também é excelente. Jackman também está indicado a Melhor Ator, enquanto Hathaway é a favorita para ganhar  como Melhor Atriz Coadjuvante.

Dividida em duas partes, a história começa quando o personagem de Jackman é libertado da prisão, depois de cumprir pena de 19 anos por roubar um pão - e, na cadeia, ter tentado escapar. Anos depois, sua vida mudou, e ele tem a chance de ajudar Fantine e sua filha, que mais tarde será interpretada por Amanda Seyfried (12 Horas). A vida dos pobres na França é retratada sob a ótica - e a voz - deles. É a hora da revolução?

Completam o elenco Russell Crowe, Helena Bonham Carter e Sasha Baron Cohen, como os vilões da trama. Além deles, a bela Samantha Barks estreia no papel de Éponine e impressiona - uma de suas cenas musicais também está entre as mais emocionantes do filme.

Com oito indicações ao Oscar de 2013 e dois Globos de Ouro conquistados (Melhor Filme Comédia/Musical e Melhor Atriz Coadjuvante para Anne Hathaway, favorita ao Oscar), Os Miseráveis fez por merecer - poderia ser indicado até em mais categorias, como Melhor Diretor, por exemplo. São raros os filmes hoollywoodianos que conseguem envolver tanto o espectador, não com ação, mas explorando bastante os sentimentos dos personagens, por meio das músicas e dos seus closes. Algumas pessoas sairão das salas antes do final, porque, apesar de envolvente, está longe de ser uma obra fácil de ser digerida. Quem assiste à ela está desarmado diante de tantas cenas levemente tocantes e precisa estar disposto a permitir essa vulnerabilidade, essencial para sentir que, em suma, Os Miseráveis é arrasador.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Um Dia

      
     Adaptar um livro para o cinema é uma tarefa dúbia. Inglória, pois a reputação do livro tem que permanecer intocada (ou ser melhorada) e o grau de qualidade tem que ser no mínimo mantido; mas, por outro lado, não há preocupações de que se a história vai agradar ao público, afinal ela já é conhecida e se não fosse bem sucedida não ganharia uma versão para o cinema. Transportar um romance composto de palavras métricamente pensadas para uma arte tão completa como a sétima não é nada fácil, e é com prazer que afirmo que este Um Dia (One Day) não irá decepcionar quem leu a obra original.
       Em ambos, Emma e Dexter se "conhecem" na festa de formatura do colégio. Daí nasce um relacionamento que será contado numa forma muito curiosa: apenas o dia 15 de julho de cada ano é mostrado. No livro, essa divisão é de um dia por capítulo. No filme, apenas as cenas mais relevantes são selecionadas.
       O autor do bestseller, David Nicholls, assina o roteiro da obra dirigida por Lone Scherfig (do ótimo Educação). Da mesma forma que no livro em um dia temos um panorama geral do que aconteceu em um ano, sendo talvez o recurso mais especial da estrutura, aqui isso acontece, mas os acontecimentos misturam-se um pouco, de forma a tornar a película tão ágil como a leitura gostosa do livro. Com o próprio autor escrevendo o roteiro, o filme é seguro no que cortar do livro e no que manter. E nesse aspecto, o resultado é positivo. Quem leu vai se deparar com frases marcantes (e outras nem tanto) que são ditas igualmente pelos personagens, deliciosas de se reconhecer.
        Anne Hathaway (Amor e Outras Drogas) e Jim Sturgess (Caminho da Liberdade) levam às telas a química de "Dex e Em, Em e Dex". Os dois atores estão ótimos em seus papéis. Anne, que nem sotaque britânico tem (louvável sua tentativa de simular um, ficou bom!), encarna do melhor jeito possível sua personagem. Isso, pois são eliminadas quase que por completo as emoções de Emma, detalhadas no livro, simplificadas no filme por meio de diálogos. O protagonistas são sucintamente apresentados: os primeiros anos passam-se muito rapidamente, e é com o passar do tempo que as personalidades são completamente registradas. Não importa: os personagens de carne e osso vão fisgar o espectador, com a intensidade necessária para fazer o clímax tão terrivelmente surpreendente quanto nas páginas.
        Se não tivesse o livro por base, poderiam-se apontar alguns clichês que permeiam a trama. Mas isso é algo que não está nas mãos da adaptação. E ademais, quem se importa com os clichês se o resultado final é tão bom? Engraçado, inspirador, envolvente e gostoso de acompanhar. Quatro características presentes nos dois meios em que a história foi contada. Pra quem leu o livro, é ótimo reviver os vinte e dois anos da trama. Pra quem não leu, o melhor está nas telas.